Jornal do Cariri
Cariri celebra início do processo de beatificação do Padre Cícero
A partir de agora, Padre Cícero é reconhecido como "Servo de Deus"
Foto: Ascom Diocese de Crato
Robson Roque e Joaquim Júnior
23/08/22 0:00

Todo dia 20, fiéis do Cariri e visitantes de todo o país relembram o falecimento do Padre Cícero em missa realizada na Igreja do Socorro, em Juazeiro do Norte. A última, celebrada em 20 de agosto de 2022, cravou na história o início do reconhecimento mais esperado pelos devotos: sob as palavras de dom Magnus Henrique, bispo da Diocese de Crato, foi anunciada a abertura do processo de beatificação do religioso – o que abre caminho para o reconhecimento oficial de Padre Cícero como um santo pela Igreja Católica. Agora, ele já recebeu o título de “Servo de Deus”.

Sob forte comoção, o anúncio foi recebido com entusiasmo, tanto pelos fiéis presentes na missa como também por aqueles espalhados pelo Cariri e por todo o país. O fato, considerado histórico, ganhou, inclusive, repercussão nacional. Em vida, Padre Cícero enfrentou um tribunal que, segundo a historiografia, mais serviu para acusá-lo do que para comprovar o milagre da hóstia transformada em sangue na boca da beata Maria de Araújo. Quase 90 anos depois da morte do cearense do século passado, um novo júri será aberto na tentativa de comprovar um milagre feito pelo padim, o que o tornaria santo. “Este tribunal será montado para ouvir, fazer o relatório, enviar para a Santa Sé e, depois, esperar um milagre”, explica o bispo da Diocese de Crato, dom Magnus Henrique Lopes.

O tribunal será composto por clérigos e especialistas em História, Direito católico e Medicina do Cariri e do Vaticano. Entre as atividades, destacam-se o estudo sobre a vida do padre Cícero, passando pela análise dos escritos do sacerdote e testemunhos de fiéis. Para se tornar Santo, o grupo de especialistas terá que comprovar um milagre a partir da abertura do processo de beatificação. “Precisamos não só contar que houve o milagre. Precisamos de médicos que vão avaliar isto aqui no Brasil. E, também, a Santa Sé tem uma equipe de médicos que faz esta avaliação, com toda uma documentação necessária para comprovar que aquilo realmente não tem explicação”, acrescenta dom Magnus.

Repercussão acadêmica

Entre pesquisadores da vida de Cícero Romão Batista, que além de religioso foi prefeito e deputado federal, o ato se reveste de um viés político. Biógrafo do Patriarca de Juazeiro, o escritor Lira Neto afirmou ser necessário "recorrer à História para entender os motivos da expulsão do polêmico sacerdote da Igreja, bem como os da reabilitação canônica”. Ainda para Lira Neto, o avanço dos evangélicos no Brasil “é capítulo indissociável do processo”. 

Estudiosa das romarias a Juazeiro do Norte, a antropóloga Renata Marinho Paz disse à TV Diário que a autorização para o processo de canonização reverbera nos campos político, econômico e cultural. Para ela, há um reconhecimento da importância da devoção popular à figura de Padre Cícero. “Associado a isso, existem outros interesses de naturezas diversas que são importantes que não podem ser desconsiderados. Mas, sobretudo, penso que é principalmente o reconhecimento dessa dívida histórica”, conclui Renata.

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