Jornal do Cariri
Câmara pede expulsão do Idab após morte de bebê
Carla Jenifer estava com 38 semanas de gestação quando perdeu o bebê
Foto: Site Miséria
Jornal do Cariri
28/12/21 17:00

Com 38 semanas de vida, ainda na barriga da mãe, Maria Cecília não pôde nascer por uma série de negligências do Hospital e Maternidade São Lucas, em Juazeiro do Norte. Após sentir fortes dores e notar que o feto não se mexia, a mãe, Carla Jenifer Gomes de Souza, foi levada para a unidade de saúde administrada pelo Instituto Diva Alves do Brasil (Idab). A Organização Social (OS) também gerencia a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Limoeiro e tem sido alvo frequente de denúncias apresentadas desde março na Câmara Municipal. O caso agrava a situação, gerando apelos para que a Prefeitura rompa, com urgência, o contrato com o Idab ou intervenha na administração dos dois equipamentos.

A série de negligências do hospital começou a uma hora da manhã quando mãe e bebê deram entrada e foi constatada que a criança estava viva, após verificação dos batimentos cardíacos, e que seria necessária a realização de uma ultrassom obstétrica. “A estagiária escutou o coração da neném, estava batendo 128. A médica transferiu para a maternidade, fomos para lá e, quando chegamos, esperamos sermos atendidas. Por volta de 2h30 foram tentar escutar o coração, e não escutou de jeito nenhum. A médica disse que não tinha como ‘bater’ ultrassom, só pela manhã”, conta a avó, Antônia Elizangela de Souza.

O exame é feito, dentre outras coisas, para avaliar a vitalidade do bebê na barriga da mãe. Porém, no caso de Carla Jenifer e Maria Cecília, só foi feito seis horas depois que a família desistiu de esperar mais de 15 horas pelo atendimento. Isto porque, primeiro, não havia profissional para fazer o exame quando elas chegaram ao São Lucas; depois, porque foram informados uma primeira vez que a ultrassom seria feito somente às 7h e, uma nova promessa, às 16h. “Nós não aguentamos a ansiedade e fomos ‘bater’ [a ultrassom] particular, e foi quando saiu o resultado que a neném tinha falecido”, conta o pai de Maria Cecília, que seria a primeira filha de Francisco Juan da Silva.

A ultrassom foi realizada em uma clínica particular no Centro de Juazeiro do Norte, depois que, segundo a avó e o pai, funcionários do hospital orientaram que o exame fosse feito na rede privada, já que não havia médico para o procedimento naquele momento. “Na hora que ele [médico da clínica particular] atendeu, minha neta já estava morta. Não tinha mais jeito”, lamentou, chorando, a avó da criança. Ela e Francisco Juan ainda acusam o Hospital São Lucas de não terem dado assistência a Carla Jenifer, já que foram para a clínica privada recorrendo ao aplicativo Uber. “Já é a segunda vez que isso acontece com ela. Afora as outras pessoas que acontecem também e não sabemos. Que tenham mais responsabilidade com as pessoas porque, desse jeito, ela não vai ser a primeira nem a última a acontecer isso”, apela Francisco Juan.

Além de causar comoção em Juazeiro do Norte, o caso também foi tratado pelo vereador Pedro Januário (Janu, do Republicanos) durante a sessão legislativa da terça-feira (21), a última de 2021 na Câmara Municipal. O parlamentar acompanhou o caso e relata ter contatado um dos diretores do hospital. “Ele veio com a conversa de que todos os procedimentos foram feitos. Como foram feitos se a criança chegou aqui com vida e não tinha um profissional para fazer a ultrassom obstétrica nessa senhora para constatar o estado da criança? A atenção dela foi a mínima possível, causou o que a gente tanto temia: a criança foi a óbito”, lamenta Janu.

O parlamentar tem sido responsável por uma série de denúncias apresentadas na Câmara Municipal contra o Idab, que administra o Hospital e Maternidade São Lucas e a UPA do Bairro Limoeiro. Entre as queixas, destacam-se: superfaturamento na compra de medicamentos, pagamentos de contas de água e luz da sede do Idab em Alagoas com dinheiro público de Juazeiro do Norte e outros indícios de corrupção e desvio de verbas. “Não tenho medo de dizer, porque tenho provas, que o Idab veio só para roubar o dinheiro de Juazeiro”, diz o vereador Janu, apelando para que a Prefeitura intervenha na gestão das duas unidades de saúde.

Esclarecimentos

Em nota enviada ao Jornal do Cariri, o Instituto Diva Alves do Brasil (Idab), gestor do Hospital São Lucas e da UPA Limoeiro, detalhou que a paciente foi internada “para realização da rotina de pré-eclâmpsia”, devido à constatação de “ausência de movimentos fetais e perda de tampão mucoso” e pressão arterial elevada.

O Idab contraria as declarações da família da paciente, ao afirmar que a ausculta indicou a ausência de batimentos cardíacos do bebê, o que motivou a necessidade da ultrassonografia obstétrica. Carla Jenifer foi submetida à cesariana para retirada da bebê. “Reforçamos que todos os procedimentos médicos foram feitos conforme conduta médica adequada e todo o suporte necessário foi dado tanto a paciente quanto à sua família durante todo o atendimento registrado no Hospital Maternidade São Lucas”, reitera o Idab

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