Jornal do Cariri
Repatriação de fósseis movimenta cenário de pesquisas
Peças repatriadas farão parte do acervo do Museu de Paleontologia Plácido Cidade Nuvens
Foto: Fábio Lima
Natália Alves
19/12/23 16:00

Após dez anos de negociações com a França, cerca de 998 fósseis contrabandeados do Cariri foram repatriados ao Brasil. Os espécimes são datados do período Cretáceo e possuem entre 90 e 110 milhões de anos, incluindo fósseis de pterossauros, tartarugas, escorpiões, plantas e outros animais oriundos da Chapada do Araripe. O material, de duas toneladas, foi recebido em Santana do Cariri na última sexta-feira (15).

O retorno dos fósseis ao Cariri movimentou o cenário de pesquisas paleontológicas e de minérios da região. Uma rocha de calcário sedimentar laminado, usada na construção civil e encontrada em grande quantidade em Nova Olinda e Santana do Cariri - a Pedra Cariri - também chama a atenção de estudantes, professores e pesquisadores da Universidade Federal do Ceará (UFC) e da Universidade Federal do Cariri (UFCA). Há muitos anos, a extração da Pedra Cariri é base para pesquisas e confecção de produtos.

Segundo a secretária da Ciência do Ceará, Sandra Monteiro, o governo do estado investiu cerca de R$ 400 mil para o transporte dos fósseis, incluindo o valor do seguro. O Governo do Estado realizou um investimento de mais de R$ 700 mil para o fortalecimento de pesquisas paleontológicas e dos trabalhos locais que utilizam os “restos” da Pedra Cariri como matéria prima. “O investimento da Secretaria de Ciência e Tecnologia e Educação Superior do Ceará em paleontologia e em rejeito da mineração são fundamentais para garantir tanto o desenvolvimento da região quanto no combate à prática de comércio ilegal de fósseis”, afirma o diretor do Museu de Paleontologia Plácido Cidade Nuvens, Allysson Pinheiro.

Em 2017, por exemplo, estudantes do curso de Design de Produtos da UFCA deram forma a rejeitos descartados nas minas de extração, confeccionando jóias artesanais e industriais, que levam consigo traços inerentes à região do Cariri. Já em 2023, pesquisadores da UFC observaram o potencial dos resíduos da Pedra Cariri, e recém-patentearam a produção de pedra artificial. Além disso, o resíduo da pedra cariri (RPC), ou resíduo da serragem da pedra cariri (RSPC), já é objeto de estudo para sua utilização como fonte de outros produtos, como argamassas e concretos.

“A produção é perfeitamente viável em conjunto com a indústria de extração já existente, visto que uma das matérias-primas necessárias para a produção da pedra artificial é justamente o resíduo gerado por essa indústria, resíduo este que hoje não é aproveitado”, aponta o Prof. Eduardo Cabral, do Departamento de Engenharia Estrutural e Construção Civil, um dos inventores que assinam a nova carta-patente.

Maior repatriação

As 998 peças repatriadas permanecerão lacradas até que seja marcada a solenidade de entrega ao acervo do Museu de Paleontologia Plácido Cidade Nuvens. O esforço para a repatriação se deu a partir da denúncia da paleontóloga Taissa Rodrigues, professora na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), ao Ministério Público (MP).

As peças já haviam sido entregues simbolicamente ao Brasil em 2022, em evento em Le Havre, na França. O professor Allysson Pinheiro explicou que esta é a maior repatriação cultural da história do Brasil. “Estamos falando da maior repatriação em volume de bens culturais brasileiros da história. Estamos vivendo um período muito especial, uma sequência de eventos raros, como o retorno do Ubirajara”, pontuou.

Grupo de trabalho

Atualmente, existe um Grupo de Trabalho entre o Governo Estadual e Federal para resgatar fósseis caririenses em outros países. “O Museu de Paleontologia faz parte desse grupo. A gente produziu uma lista com todas as espécies do Cariri que se encontram fora do Brasil e a forneceu para esse grupo de trabalho, para começarmos a fazer pedidos formais aos governos, solicitando a repatriação desses materiais” explica Allysson.

De acordo com o Ministério Público Federal (MPF), existem dois casos em tramitação, que envolvem um esqueleto quase completo de pterossauro da espécie Anhanguera e outros 45 fósseis, alguns com milhões de anos.

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