O cratense Aderaldo Ferreira de Araújo, conhecido como Cego Aderaldo, é uma das figuras mais conhecidas no cenário do Nordeste. O legado do poeta, músico e cantor deve inspirar o novo espetáculo do Grupo Pequeno Teatro do Mundo, companhia de teatro de marionetes de São Paulo que esteve no Cariri e participou de programa de residência artística na ONG Beatos, em Crato.

Fábio Retti, integrante do Grupo junto à esposa, Fabiana Vasconcelos, e a filha do casal, Kim Retti, conta que os trabalhos da companhia sempre se voltam a temas que dialogam com momentos da vida dos integrantes, como infância, cultura indígena e envelhecer. “Esse próximo espetáculo que a gente está criando será sobre três temas: o rap, o repente e o Cego Aderaldo. Essa tríade, esses temas surgiram a partir de uma experiência nossa. Nossa filha nos apresentou as batalhas de rima, que são competições poéticas onde os MCs duelam”, explica, ao dizer que, nessa experiência, eles remeteram o tema aos duelos de repentistas.

Ao ser apresentado à história de Cego Aderaldo, o grupo tomou uma decisão: “Então vamos fazer um trabalho sobre o rap e o repente, tendo o Cego Aderaldo como condutor dessa história, dessa pesquisa que a gente está fazendo.” Como acredita Fábio, eles consideram que o grande poeta poderia ser personagem de um realismo fantástico. “Ele perde a visão, se torna um dos maiores repentistas do país, monta um cinema itinerante onde ele narra os filmes mudos. Se a gente pensar uma pessoa que perdeu o ‘brilho dos olhos’ e está trazendo a visão do mundo para as pessoas, isso é muito imagético. E tem muitas histórias potentes na história dele. Então, quando a gente conheceu a história dele, meio que fechou essa matemática”, relata.

Conforme explica Fabiana, o projeto está em fase inicial. “A gente, quando constrói o espetáculo, tem um longo processo de pesquisa e de mergulho nos temas que são pertinentes aos motes que escolhe para criar essa nossa poesia teatral,” afirma, ao dizer que há um longo período de aprendizagem. Nele, os integrantes buscam aprender e viver experiências que deem elementos para a composição posterior do espetáculo.

O trabalho foi contemplado pelo edital da Política Nacional Aldir Blanc (PNAB), através do Governo do de São Paulo. A partir disso, teve início a organização do projeto, com a imersão no repente sendo um dos primeiros passos. Na ONG Beatos, que tem à frente a gestora de cultura Dane de Jade, os integrantes foram apresentados a mestres da cultura popular do Cariri. “Foi uma experiência muito, muito, muito engrandecedora, muito potente, muito forte”, enfatizou Fabiana, ao dizer que, logo depois, eles participaram de Semana Cego Aderaldo de Arte-Poesia, em Quixadá, e mergulharam mais na história do cratense. “Vamos dizer que o primeiro passo efetivo da realização do projeto é essa estada no Ceará, que tem sido muito rica. As ideias estão fervilhando”, comenta a artista.

Durante a passagem no Cariri, profissionais de diferentes áreas acompanharam o grupo e contribuirão com o novo espetáculo: Bia Raposo, artista visual; Ruth Dalps, musicista e DJ; Rogério dos Anjos, que atuará na criação dramatúrgica. As próximas etapas do projeto incluem imersão na cultura do hip hop, com MCs de rap e participação em batalhas de rima, para que sejam criadas a dramaturgia, a história, a confecção das marionetes e de cenário, etc.

Ainda sem data de estreia, o projeto deve  ter novidades entre o final de 2025 e início de 2026. “A gente precisa devolver o tanto de coisa que está sendo alimentado. Acho que a gente tem essa vontade, esse desejo e essa responsabilidade de trazer de volta o que resultou dessa experiência”, afirma Fabiana, ao dizer que possivelmente o grupo retornará ao Cariri e, se for possível circular pelas cidades, este será um sonho realizado.