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Vítima de tentativa de feminicídio cobra justiça contra vereador
“Era pra estar preso”: vereadores sobre o retorno do colega acusado de tortura
Robson Roque
08/07/25 14:00

“Me sinto segura, porque eu tenho minha família, tenho a medida protetiva. E, agora, só imploramos por justiça”. A declaração é da fisioterapeuta Suânia Dias, vítima de violência contra a mulher em dezembro de 2024, praticada por seu ex-namorado, o vereador Mayko do Chapéu, reeleito com 1.032 votos pelo MDB, em Várzea Alegre.

Suânia rompeu o silêncio de seis meses e detalhou o episódio de tortura física e psicológica. “Foram horas de tortura, minha roupa rasgada, faca nas minhas partes íntimas, socos e enforcamentos. Já que eu não ia ser dele, não ia ser de mais ninguém”, relata a vítima, por meio de um vídeo publicado no seu perfil do Instagram.

Em entrevista exclusiva ao Jornal do Cariri, Suânia diz que a vida dela mudou radicalmente. “As pessoas que convivem comigo já perceberam que existe uma Suânia antes e uma Suânia depois [do ocorrido]”. A revitimização - sofrimento contínuo causado por reviver o momento do trauma, seja por interrogatórios repetitivos, julgamentos ou exposição pública - é ressaltada pela fisioterapeuta: “De dezembro para cá, têm sido dias difíceis. Eu não sei o que é mais doloroso, se foi o dia que aconteceu ou se vem sendo esses dias que venho passando”.

Para Suânia, o conforto vem da rede de apoio, em especial a família, mas também de pessoas que, assim como ela, sofreram violência de gênero. “Mas triste é saber que existem mulheres que passaram e que passam por tudo isso que eu passei, mas que não podem se manifestar, não conseguiram falar, denunciar, gritar. Elas, mesmo em segredo, falaram pra mim: ‘não desista, não se cale, por nós’. Isso ‘tá’ me dando muita força”, conta.

Conforme explicou, a sessão de tortura foi cometida na casa dela, após ter sido dopada. “Quando acordei, [ele] estava mexendo no meu celular e me acusando de coisas que não tinham nexo”. Suânia acrescenta que o relacionamento entre ela e Mayko já havia terminado quando o crime foi cometido. Em meio às agressões, ela conseguiu se trancar no banheiro, mas o parlamentar insistiu. “Enquanto ele tentava entrar pelo vitrô, eu fugi, do jeito que eu estava [nua], da forma mais humilhante e vergonhosa”. 

Câmara
O caso repercutiu em diversos veículos de comunicação, inclusive de abrangência nacional. Em abril, após pressão popular, a Câmara Municipal de Várzea Alegre decidiu, por unanimidade, afastar Mayko do Chapéu por 60 dias, pena máxima prevista no Regimento e no Código de Ética do Legislativo.

A presidente da Comissão de Ética, Ciete do Sindicato (PT), sugeriu mudanças nos documentos “para que, futuramente, vereador ou vereadora que quebrar o regimento interno, o código de ética, venha a ser passível de uma punição mais rígida”, aconselha. 

Cumprida a suspensão, Mayko do Chapéu retornou ao cargo, no dia 18 de junho, reclamando da comissão por ter sido afastado. “Fui afastado não legitimamente pelo código de ética, mas, sim, por um parecer combinado e articulado para que isto acontecesse”. 

A acusação foi rebatida por membros da Comissão de Ética. “Se o código de ética fosse outro, vossa excelência não estaria aqui hoje, por conta da gravidade do crime que cometeu. A Justiça pecou muito, porque vossa excelência era pra estar respondendo, talvez, preso”, considerou Marcelo Fledson (PSB). 

Executivo
O prefeito de Várzea Alegre, Flávio Filho, filiado ao MDB, mesmo partido que Mayko do Chapéu, publicou nota de repúdio em redes sociais. “Como prefeito de Várzea Alegre e como pai de uma menina, manifesto meu total repúdio a qualquer forma de violência, especialmente contra a mulher”. O ex-prefeito do município, Zé Helder (MDB), também se manifestou publicamente: “A violência contra a mulher é inaceitável e exige de todos nós uma postura firme e responsável”. 

Violência contra a mulher
A região do Cariri registrou 1.673 casos de violência contra a mulher entre janeiro e maio de 2025. No ano passado, foram 3.995 ocorrências e sete feminicídios contabilizados pela Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social do Estado do Ceará (SSPDS). As principais vítimas são mulheres jovens, com idade entre 24 e 47 anos.

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