Jornal do Cariri
Tamiflu esgota em farmácias em meio a alta de casos
O desabastecimento pode ser explicado pelo temor tanto da covid-19 como da cepa H3N2
Créditos: Kayoko Hayashi
JORNAL DO CARIRI
18/01/22 10:59

O Cariri vive um surto de influenza ao mesmo tempo em que os casos de covid-19 voltam a crescer na região. O cenário é preocupante, alertam médicos e autoridades em saúde. Em meio ao cruzamento de casos em que, inclusive, uma pessoa pode ser acometida por covid-19 e influenza simultaneamente, o principal medicamento usado para esta última doença está esgotado nas farmácias caririenses. As ligações feitas pelo Jornal do Cariri para os estabelecimentos obtiveram a mesma resposta: “está em falta no momento”. Outras dizem que estão “providenciando”. 
A médica cratense Natália Parente teve a mesma resposta quando procurou pelo medicamento. “Tive que ligar para uma farmácia de São Paulo, paguei e pedi para deixarem o Tamiflu na casa de uma amiga, para que ela enviasse a caixa para mim”. Além de trabalhar na linha de frente contra covid-19, influenza e outras doenças e síndromes gripais, a médica pretende usar o medicamento caso seja exposta ao vírus da Influenza, já que se encaixa no grupo de risco. Comercializado sob a marca Tamiflu, o Oseltamivir é um antiviral usado na prevenção e tratamento de gripe causada por influenzavirus. 
O desabastecimento nas farmácias do Cariri e de outras regiões e capitais do Brasil pode ser explicado pelo seu uso indiscriminado, prática desautorizada pela Secretaria de Saúde do Ceará (Sesa), já que “pode resultar no desabastecimento do insumo, limitando o acesso dos indivíduos que realmente necessitam utilizar as medicações”. Pediatra do Hospital Santo Antônio, em Barbalha, o médico Walden Neto alerta quanto ao uso indiscriminado do Tamiflu, cujos riscos da utilização inapropriada é semelhante a outros medicamentos, enquanto a indicação é específica para casos confirmados de Influenza.
“Medicação é uma droga, tem seus efeitos adversos, você está poluindo o seu corpo. Na medicina, quando vamos passar uma medicação, pesamos muito bem o custo-benefício sabendo que toda medicação tem seu efeito adverso, mas a gente pesa e vê que o benefício é melhor do que o risco e é assim que prescrevemos a medicação, sempre sabendo que medicação demais tem os potenciais riscos do uso dela. No caso do Tamiflu, seria interessante se as pessoas pensassem realmente se elas estão com o vírus Influenza. Caso contrário, não tem a menor indicação. Segunda coisa: se ela estiver no grupo de risco. Senão, uma gripe se cura com o passar do tempo sem a menor necessidade do uso do antiviral”, adverte.

A médica pneumologista Kaline Cristhtambém observa sobre a necessidade de diferenciar os quadros sintomáticos de influenza e covid-19 como fatores relevantes para o tratamento. “Hoje, já sabemos que o corticoide é um excelente tratamento para covid, que impede que a doença se torne mais grave. E, no caso da gripe, o corticoide, por ser um imunosupressor, pode piorar a situação da doença. Então é importante que saibamos fazer o diagnóstico correto e o tratamento correto mais ainda”, argumenta. 
No caso da covid-19, diz a médica, os principais sintomas são os catarrais, como coriza, cefaléia e dor na garganta. Nos casos leves de pessoas infectadas pelo coronavírus, a dor desanima, mas não incapacita as pessoas para atividade habituais. “Já nos casos de gripe você terá mais dor no corpo; é aquela doença que te derruba, mesmo. Pode, sim, ter sintomas catarrais, como obstrução nasal, dor de garganta, mas, realmente, o que chama mais atenção é a questão da dor no corpo”, esclarece.
Prevenção e tratamento
No penúltimo dia de 2021, a Secretaria de Saúde do Ceará emitiu uma nota técnica para orientar sobre o uso de Oseltamivir para tratamento de Influenza. A Sesa recomenda o uso do medicamento já nas primeiras 48 horas de manifestação dos sintomas, para sua maior eficácia. Na nota, a secretaria reconhece que o objetivo do uso do Tamiflu é a redução das complicações entre pessoas mais vulneráveis, como gestantes e puérperas, adultos com mais de 60 anos e crianças menores de cinco. “Recursos preventivos, tais como vacinação e medidas comportamentais (isolamento de casos, uso de máscaras, distanciamento social) são as formas mais efetivas de controle das epidemias de influenza”, alerta a Sesa. 
A secretaria ainda indicou o uso do medicamento de forma profilática, sugestão que foi recomendada por secretarias municipais de Saúde no Cariri, a exemplo de Crato. Em um ofício, a coordenadora da Vigilância em Saúde do município cratense, Yana Carla Feitosa, reforçou junto aos profissionais da rede pública municipal as indicações de terapia e profilaxia com o antiviral. O documento traz orientações sobre faixa etária, posologia e duração do tratamento de adultos e crianças menores de um ano. Já pacientes que se encaixam no grupo vulnerável, como as gestantes, devem ser tratadas imediatamente com o Tamiflu.

PUBLICIDADE
PUBLICIDADE
RECOMENDADAS PARA VOCÊ
PUBLICIDADE
RECOMENDADAS PARA VOCÊ