Jornal do Cariri
Suicídio: psicólogos alertam sobre importância de falar sobre o tema
Caps e CVV são alguns dos serviços que dão apoio emocional
Foto: Tânia Rêgo/ Agência Brasil
Joaquim Júnior
11/06/24 8:30

O aumento na taxa de suicídios registrado nos últimos anos liga um alerta necessário: é preciso falar sobre o tema. Muitas vezes considerado um tabu, o assunto escancara a urgência de falar sobre a saúde mental e efetivar ações que alcancem toda população, de crianças a idosos. Os Centros de Atenção Psicossocial (Caps), instalados em muitos municípios, e o Centro de Valorização da Vida (CVV), serviço gratuito de ligação, mensagens e e-mails, são alguns dos serviços voltados a oferecer ajuda e o apoio emocional, além da prevenção ao suicídio. Somente no período de abril de 2023 e março de 2024, o CVV registrou 40.056 ligações (atendidas e não atendidas) oriundas de Juazeiro do Norte e região.

Macedônia Felix, psicanalista que atua no Cariri, acredita que, quando se cala sobre o suicídio, se deixa de falar sobre a vida. Como aponta, falar sobre o assunto é encarar a tarefa de colocar a vida em questão, e deixa o convite: se alguém pensa na morte, procure alguém de confiança e fale sobre isso. “Falar é dar uma chance de fazer outra coisa com a dor que não seja uma saída definitiva da cena da vida”, completa.

Como cita a psicanalista, o tabu sobre o suicídio talvez esteja ligado ao silêncio em torno do tema. “Quanto menos se fala, menos se compreende algo sobre e mais se julgam as pessoas que tentaram o suicídio. Um dos caminhos para mudar isso é ter mais espaços de fala. Uma reportagem como esta, uma roda de conversa, uma discussão em sala de aula, debates sobre filmes e estudos sobre o sofrimento humano são formas de tratar o suicídio com humanidade”, pontua.

Diante do cenário da perda de uma pessoa querida, cada pessoa lida de forma diferente, ao seu tempo. “É preciso tempo para trabalhar a perda”, destaca Macedônia, ao afirmar que cada pessoa lidará com a ausência de uma maneira diferente da outra. “É uma experiência de sobrevivência após a perda. É possível que faça diferença procurar um apoio de uma pessoa de confiança, que não faça julgamentos sobre como a pessoa está sofrendo”, enfatiza.

A psicanalista conta que uma das formas de ajudarmos uns aos outros é, primeiramente, reconhecer que a vida nem sempre é maravilhosa, bela, saudável e prazerosa. “Se uma pessoa fala em suicídio e pede ajuda, não seja o coach da vida feliz, juiz ou deus. Se não pode ajudar, não atrapalhe. Indique um profissional da saúde mental de confiança, por exemplo. Já os profissionais da saúde que atendem pessoas que sobreviveram à tentativa de suicídio, devem buscar atuar na escuta e no acolhimento profissional e não como juízes em um tribunal”, conclui Macedônia.

A opinião da profissional é compartilhada pelo psicólogo Pedro Alencar, que reforça: “Primeiramente, eu penso que, se está sendo muito difícil e doloroso lidar com o sentimento de perda e se há muita culpa, é possível buscar uma psicoterapia, de preferência com profissionais especializados na questão do luto e posvenção do suicídio”. Ele também considera importante compreender que o luto é uma dor subjetiva e intransferível, e que cada pessoa sente de uma forma. “Se tiver sendo muito difícil se reconectar com a própria vida após seis meses de luto, é aconselhável buscar profissional da psiquiatria também”, sugere.

Pedro enfatiza que escuta e acolhimento são essenciais nesses momentos. Assim, é muito importante ouvir a pessoa que está em processo de sofrimento por suicídio ou de luto no geral. “Quando me refiro a escutar, não é dar respostas prontas ou aconselhar, mas de fato ouvir com atenção, colocando-se no lugar de quem está sofrendo. Se a população conseguisse usar de mais empatia e não julgamento nessas situações, seria uma forma de cuidado fundamental”, relata, ao lembrar que organizar e participar de grupos em que se pode falar sobre a dor da perda, sobre os desafios enfrentados no tocante à morte, também são formas que a comunidade pode contribuir sobre o tema.

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