“Se o Nordeste é o grande amálgama da cultura brasileira, o Cariri cearense, localizado na Chapada do Araripe, é o epicentro de tudo isso. É um mundo à parte do mundo, um lugar encantado, transbordante de encantamento por todos os poros, pessoas e texturas”. Com estas palavras, o estilista Ronaldo Fraga levou ao mundo a coleção Terra de Gigantes, criada em parceria com o Senac e o Sesc Ceará, que abriu a edição 2021 da São Paulo Fashion Week. No evento, o Cariri mostrou seu potencial no mundo da moda. Nos próximos meses, o segmento deverá receber ainda mais incentivos na região e em todo o Ceará. Com a criação do Projeto 100% Ceará, a qualificação da indústria da moda no estado será fomentada, no intuito de recuperar o status entre os melhores no trade da moda brasileira.
Paulo Rabelo, presidente da Câmara Setorial (CS) da Moda no Ceará, conta que a moda cearense precisa ser resgatada e, no processo, o Cariri é um dos focos dentro do processo de interiorização. O projeto contemplará todas as etapas, desde o plantio do algodão e trabalho com as comunidades artesãs à melhoria nos designs do produto e internacionalização das marcas. “Um bom tempo atrás, o Ceará estava em segundo lugar. Hoje, está entre sexto e sétimo, em relação à confecção”, conta, ao dizer que haverá tentativa de colocar o estado novamente entre os três primeiros colocados.
Como destaca Paulo, poucos locais do mundo possuem a cadeia completa que abrange todas as etapas no mesmo território - o Ceará é um deles. “Somos muito beneficiados e não estamos sabendo aproveitar bem”, relata, ao destacar a existência de profissionais capacitados. O projeto alcançará costureiras e empresas menores, que estão iniciando, que poderão receber incentivos para aquisição de maquinários. As escolas profissionalizantes também serão engajadas no movimento. O apadrinhamento desses equipamentos, por parte de empresas, foi sugerido pelo secretário do Desenvolvimento Econômico e Trabalho (Sedet), Maia Júnior, e também é estudado.
Lélio Matias, presidente do Sindiroupas e vice-presidente da CS da Moda, conta que, entre os fatores apontados pela desvalorização da moda cearense, está a queda da qualidade do produto, que passou a ser de baixo valor agregado; o avanço da informalidade; falta de incentivo aos créditos; entre outros. O Projeto 100% Ceará, de acordo com Lélio, está focado em quatro eixos: capacitações que envolvem RH; pesquisa, desenvolvimento, tecnologia e inovação; ações de mercado para integração do setor ao mercado; e políticas públicas. O Cariri está inserido, também, por meio do Sindindústria, que tem sede no Cariri. Na área de eventos, a região fará parte por meio de amostras regionais.
“Com o envolvimento de todos os sindicatos, temos uma sintonia de energias voltada para o propósito maior. Nós precisamos fazer o resgate da indústria da moda, que envolve desde o algodão ao calçado. Ações de curto, médio e longo prazo estão sendo desenvolvidas do quatro eixos”, conta, dando ênfase que todos, dos micro aos grandes empresários, serão abarcados com as ações. Será criado, ainda, o selo origem do produto 100% Ceará, que vai identificar os produtos produzidos com DNA e características cearenses. O projeto 100% Ceará surgiu na CS da Moda, migrou para a Federação das Indústrias do Estado do Ceará (FIEC) e conta com o engajamento de nove sindicatos, do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), de prefeituras e Governo.
