Segunda onda é mais rápida e letal em nove municípios do Cariri
Foto: Rovena Rosa - Agência Brasil
Robson Roque
30/03/21 0:00

Dados coletados pelo Jornal do Cariri diretamente com as Secretarias de Saúde dos municípios caririenses e na plataforma estadual IntegraSUS demonstram que a segunda onda de covid-19 se apresenta como mais letal do que na primeira onda em alguns municípios da região. O caso mais emblemático é o de Altaneira. A cidade contabiliza, nos três primeiros meses de 2021, aumento de 150% no número de vidas perdidas por complicações da covid-19: de março a dezembro de 2020 foram oito óbitos e 12 mortes entre primeiro de janeiro e 29 de março de 2021.

Outros seis municípios estão em situação semelhante. Antonina do Norte já registrou, em 2021, 75% do total de mortes do ano passado, com seis este ano e oito no ano passado. Jati alcançou a marca de 50% das mortes de 2020, Araripe 50%, Campos Sales 52%, Brejo Santo 55%, Tarrafas 57%, Porteiras 60% e Potengi 66%. Com relação à quantidade de pessoas infectadas, Araripe, Tarrafas e Jati atingiram, nos últimos três meses, a metade do total de mortes de 2020, enquanto Jati e Penaforte chegaram a 56% e 64% respectivamente. Os dados revelam que a segunda onda de covid-19 tem atingido, no Cariri, sobretudo as cidades consideradas de pequeno e médio porte, diferente do que aconteceu na primeira onda, cujo triângulo Crajubar foi o principal afetado.

Brejo Santo, com cerca de 50 mil habitantes, contabiliza 2.163 pessoas infectadas este ano, número maior do que os 1.951 casos registrados em Juazeiro do Norte e os 771 acometidos em Barbalha, no mesmo período. O cenário da pandemia levou a gestão municipal a tomar medidas mais restritivas, como a adoção de barreiras sanitárias para impedir o fluxo com outros municípios, somados às medidas impostas pelo distanciamento social determinado pelo governo estadual. 

A secretária de Saúde de Brejo Santo, Glaíse Feijó, diz que a gestão tem apostado na prevenção para reduzir o número de casos e óbitos. “As pessoas precisam aderir, compreender que é um esforço coletivo através dos órgãos municipais apoiando as ações da Vigilância Sanitária, onde toda a pessoa precisa se envolver, desde os grandes comércios, como também as pessoas nos seus hábitos rotineiros”, conta Glaíse. Ela acrescenta que o Município mantém uma fiscalização contínua para conferir “se as normas sanitárias exigidas estão sendo cumpridas e vendo situações que possam causar risco à sociedade”.

Já no triângulo Crajubar, a análise comparativa por meio da média móvel, que considera o estudo de período maiores, como uma semana inteira, mostra o crescimento de casos e óbitos em Juazeiro. Mesmo diante do lockdown, a maior cidade caririense teve aumento de uma média de 35 casos na semana entre 15 a 21 de março para média de 98 nos sete dias seguintes. No mesmo período, o número de óbitos cresceu de 0,57 para dois óbitos por dia entre 22 a 28 de março. No mesmo espaço de tempo, Crato reduziu de uma média de 36 para uma de 26 casos semanais, enquanto Barbalha viu a média de casos passar de 14 para 19. 

Prefeitos divergem

Levantamento do Jornal do Cariri indica que, em Nova Olinda, foram registrados 590 casos em 2020 e 122 na atual segunda onda, além de 10 mortes no ano passado e três entre janeiro e março de 2021. “Acredito que aqui em nossa cidade não faz sentido isolamento social rígido. Defendo a reabertura imediata do comércio, com as medidas sanitárias de isolamento de contato sendo tomadas”, considera o prefeito Ítalo Brito.

Por outro lado, o gestor, que também é médico, argumenta que municípios de menor porte, como é o caso de Nova Olinda, têm desafios maiores ao lidar com a pandemia. A rede hospitalar é um dos principais obstáculos. “Municípios de pequeno porte tendem a sofrer bem mais, pois temos hospitais com menos recursos”, conta. Ítalo Brito também exige a reabertura de leitos de enfermaria e Unidades de Terapia Intensiva (UTI) na região. Nas últimas semanas, muito se falou em fila de pacientes para UTI-covid. Contudo, se compararmos a quantidade de leitos de UTI que tínhamos há um ano no Hospital Regional do Cariri, hoje temos uma defasagem de mais de 30 leitos. Portanto, faz-se urgente a reabertura destes”, conclui.

O prefeito de Santana do Cariri, Samuel Cidade, relata que a situação do município é alarmante. “Só que estamos tomando todos os cuidados. Graças a Deus, o nosso hospital está com insumos e estamos fazendo bastantes testes. Então é uma situação alarmante, mas de certa forma controlada”. Ele detalha que por ser uma cidade menor, se comparada com Juazeiro do Norte, Crato e Barbalha, a gestão municipal consegue ter um controle maior do cenário sanitário. “Conseguimos, de certa forma, monitorar melhor a questão dos pacientes, para que eles cumpram o distanciamento, o período de 14 dias quando eles estão positivados”, conta o prefeito, ao acrescentar que Santana do Cariri não tem pacientes em leitos de UTI, apesar de temer a superlotação de hospitais na região. “O sistema de saúde, infelizmente, colapsou no Cariri e no Ceará. Então ficamos naquela apreensão: se precisar de um leito de UTI para um paciente, infelizmente não tem”, finaliza. 

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