Jornal do Cariri
Resgate dura 72h e expõe perigo de poços desativados
O tempo todo havia risco de desmoronamento
Foto: Anderson Duarte
GENEUZA MUNIZ
29/03/22 18:30

O desabamento de uma cacimba desativada, no quintal de uma residência do bairro Santa Tereza, em Juazeiro do Norte, na última quinta-feira (24), teve um triste desfecho. Após 72 horas de resgate, dona Sônia Cristina da Silva, de 48 anos, foi retirada sem vida do local. Ela é uma das duas vítimas do desabamento. A primeira, Maria Edilânea Moreira, de 40 anos, foi resgatada algumas horas após o acidente, ainda na quinta-feira, apenas com escoriações. Ao ser localizado, o corpo de Sônia já estava em avançado estado de decomposição, há 70 metros de profundidade. As casas no entorno do acidente seguem interditadas, pois devem passar por avaliação da Defesa Civil.
O Corpo de Bombeiros enfrentou novos riscos de novos desabamentos durante o resgate. Em entrevista concedida ao Jornal do Cariri, nesta segunda-feira (28), o comandante do Corpo de Bombeiros em Juazeiro do Norte, tenente-coronel Agnaldo Alexandre, detalhou as situações mais difíceis vivenciadas pela equipe. “O local onde estávamos era um local muito pequeno, estreito, confinado, sem segurança. Vale ressaltar que o piso estava desabando. Nós tivemos que fazer um piso improvisado para trabalhar em cima e amarrados. Pendurados, ancorados em pontos de fixação também difíceis, muito próximo ao buraco. E também vimos que durante o processo algumas paredes internas da cacimba vieram a cair”.
Segundo o tenente-coronel, foram retirados oito metros de escombros sobre a vítima e, para retirada da tampa que cobria o poço, foi necessária a ajuda de um guincho. “Vale ressaltar que o tempo todo havia risco de desmoronamento. Houve momento de muita ansiedade e angústia, com os riscos que a equipe estava passando. Nós queríamos dar uma resposta à família, mas a gente sabe que primeiramente temos que dar segurança ao nosso pessoal”. No local, havia um grande risco de desabamento das paredes ao redor do buraco e, por conta disso, os bombeiros tiveram que usar tubos verticais, com diâmetros largos para segurança dos profissionais.
O comandante do Batalhão de Buscas e Salvamento, Coronel Daniel Landim, que veio de Fortaleza reforçar a equipe do CB do Cariri, também falou sobre a operação. "Nossa grande dificuldade é trabalhar em espaço confinado, pois precisamos fazer o reabastecimento de ar para os bombeiros que estão no fundo do poço. Então, à medida que vamos cavando, o cheiro forte vai se alastrando no ambiente”. Recentemente, a equipe do Coronel Landim participou de buscas nos desabamentos em Petrópolis (RJ) e em Itabuna, nas enchentes da Bahia. Eles também atuaram durante o desabamento do Edifício Andrea, ocorrido em 15 de outubro de 2019, em Fortaleza. Pelo menos 22 bombeiros atuaram no resgate em Juazeiro, sendo sete da capital.
Perigo
O engenheiro e assessor especial de projetos da secretaria de Infraestrutura de Juazeiro do Norte, Akiro Chikushi, explica como o morador deve proceder, caso exista poço desativado em casa. “Posteriormente à sua desativação, é importante sua constante avaliação das condições físicas aparentes, tais como existências de fissuras ou afundamento na tampa, recalque (abaixamento) do piso no seu entorno e, ademais, evitar direcionar água para dentro do poço. Comumente, a população desativa esses sistemas antigos de poços artesanais, mas mantém algum ralo e/ou canalização conduzindo águas para seu interior”.
Akiro também pontua sobre as responsabilidades sobre os locais. “Por se tratar de ambiente particular/privado, a Prefeitura não pode intervir diretamente no imóvel. Todavia, os setores se colocam à disposição para auxílio no que tange assessoria e vistoria técnica”. Para finalizar, o engenheiro sugere que a população faça suas manutenções regularmente, consulte profissionais habilitados e tome precauções para evitar acidentes domésticos como o que vitimou a dona Sônia Cristina. “Não construir garagens sobre suas tampas, a não ser que o profissional garanta que estas suportam as cargas. No caso de poços artesanais, deixar suas paredes laterais acima do nível do piso e em local de difícil acesso às crianças; não construir fossa/sumidouro próximo à cisternas para evitar contaminações; estudar se de fato é viável manter esses poços artesanais ou solicitar fornecimento de água pelas concessionárias, visto serem águas tratadas e de fácil acesso”, finalizou Akiro.

PUBLICIDADE
PUBLICIDADE
RECOMENDADAS PARA VOCÊ
PUBLICIDADE
RECOMENDADAS PARA VOCÊ