Quase 65% das mulheres negras são chefes de domicílio
“Com empregos precarizados, essas mulheres mal conseguem sobreviver com dignidade”, Macedônia Felix, integrante da Frente de Mulheres do Cariri
Foto: Agência Brasil
Joaquim Júnior
11/04/23 11:30

Um estudo do Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece) apresenta que o número de mulheres chefes de família no Ceará subiu de 26,8%, em 2012, para 43,5%, em 2022. Segundo o trabalho, que tem como autor o analista de Políticas Públicas Victor Hugo de Oliveira, quase 65% das mulheres negras no estado desempenham o papel de chefe de domicílio. Para Macedônia Felix, psicanalista e feminista ativista na Frente de Mulheres do Cariri, o indicador aponta uma realidade diária: a solidão das mulheres pretas e a sobrecarga de trabalho.

Como cita a ativista, por muitas vezes se verem sozinhas e contarem com uma rede de apoio fragilizada, as mulheres precisam sustentar suas famílias sem contar com uma estrutura adequada para isso. “Com empregos precarizados, essas mulheres mal conseguem sobreviver com dignidade. Se falta o básico, imagine onde fica a saúde mental?!”, pontua Macedônia.

Ela destaca que muitas mulheres são mães solos e necessitam sair para o trabalho sem a garantia de uma creche ou que suas crianças estejam em uma escola segura durante a jornada, e lembra que muitas mulheres são chamadas de guerreiras por conseguirem fazer muita coisa ao mesmo tempo. “Conseguimos ou para muitas não há outra opção?!”, questiona.

“Quando a mulher descansa, que tempo ela tem para si mesma? As mulheres têm acesso à informação suficiente para decidir sobre quando e como engravidar? Isso também precisa ser garantido pela política pública”, completa, ao mencionar que a sociedade convive com uma cultura que normaliza que os homens abandonem sua responsabilidade de genitores, enquanto as mulheres ficam sozinhas e com crianças pequenas.

Sobre o estudo, Macedônia afirma que seu resultado pode ser positivo se for usado para efetivar políticas públicas paras as mulheres, como profissionalização; oportunidades de trabalho, estudo, suporte psicológico, cuidado na saúde mental; remuneração de acordo com a realidade das despesas; de acesso à cultura, esporte e lazer; distribuição de renda etc. “A pobreza não é natural. Ela é criação de um sistema que explora pessoas e não permite que essas tenham tempo para estudar, sonhar ou planejar o futuro”, finaliza.

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