Jornal do Cariri
Preço de passagens sobe 12% e pesa no bolso dos usuários
Subsídio à Via Metro tem agravado a crise entre Prefeitura e Câmara de Juazeiro
Foto: Divulgação
Robson Roque
14/09/21 8:00

O mês de setembro começou com novo aumento nas despesas dos caririenses que usam o transporte público. O preço da passagem aumentou 12,99% no transporte interurbano regular e complementar. Os percentuais representam, na prática, a elevação no valor das viagens no triângulo Crajubar, que subiram de R$ 2,70 para R$ 3,00 na última quarta-feira (8). No acumulado do mês, o profissional que utiliza o transporte coletivo de segunda a sábado, por exemplo, passará a desembolsar, mensalmente, R$ 144,00 - em comparação aos R$ 129,60 pagos por mês, antes do reajuste, o que representa 14% do salário mínimo. Ana Paula Monteiro, líder comunitária do bairro São José, localidade desassistida pelo transporte público, queixa-se do reajuste tarifário. “Como não temos mais transporte coletivo, somos obrigados a sair de dentro do bairro até a Avenida Padre Cícero e tomarmos a linha Via Urca.

O acréscimo é feito em meio a uma queda de braço entre Prefeitura e Câmara de Vereadores, sobre a cessão de subsídio à Via Metro, responsável pelo transporte público no território de Juazeiro do Norte e entre esta e as cidades de Barbalha, Crato e Missão Velha. A concessionária alega que o Município de Juazeiro do Norte descumpre, desde 2019, cláusulas contratuais que tratam do reajuste tarifário e do equilíbrio econômico-financeiro da concessão. Em nota enviada ao Jornal do Cariri, assinada pelo diretor executivo André Eskinazi, a Via Metro diz que esta situação causa “uma incapacidade financeira e operacional da empresa em manter a operação face às elevações dos custos e à queda da demanda pagante, devido à pandemia de covid-19”. 

A atual gestão juazeirense decidiu não aumentar o valor das tarifas e compensar as perdas da Via Metro com um subsídio mensal de R$ 200 mil, parte paga pela Prefeitura e a outra pelo Governo do Ceará. A direção também informou que a situação financeira da empresa se agravou durante a pandemia, o que a levou a contrair créditos em instituições financeiras, fornecedores e bancos. A concessionária ainda enfatiza que o atual modelo de remuneração do serviço, custeado pelo usuário, “chegou ao fim”. E explica: “A capacidade financeira do usuário, a necessidade de pleno atendimento em áreas não rentáveis e a necessidade de pensar transporte como caráter público e essencial, nos remete a uma nova realidade, em que se pense num novo marco regulatório, em que toda a cidade e todo cidadão tenha direito a um transporte eficiente, de fácil acesso e a preço módico, inclusive podendo chegar a ser gratuito”.

Debate

Para que a concessionária receba o subsídio, a Câmara Municipal precisa aprovar mensagem do prefeito Glêdson Bezerra (Podemos), o que tem gerado embates entre os dois poderes. Uma audiência pública, realizada na semana passada, discutiu o assunto. Nela, o ex-prefeito de Juazeiro do Norte, Manoel Santana Neto (PT), reconheceu como histórica a problemática do transporte no Município e também se reportou sobre o valor das passagens. Ele argumentou que, apesar de Juazeiro ser a cidade mais populosa do Cariri, seu território não é tão grande. “As linhas de Juazeiro são pequenas e os custos das linhas são exagerados. Não correspondem à realidade, se comparados a uma cidade como Fortaleza ou mesmo das linhas intermunicipais aqui do Cariri. É só comparar as distâncias”. 

O ex-prefeito acusou a empresa de, antes, monopolizar todas as linhas municipais e, agora, “monopolizar somente as linhas excessivamente lucrativas, em detrimento das outras”. Ele também defendeu o repasse dos subsídios, desde que acompanhados de contrapartidas. “Na hora que entrar dinheiro público para empresa privada, o dinheiro não pode ser só para garantir lucro dos patrões. Tem que ter uma contrapartida para a população carente, que não pode ser outra a não ser o passe livre”.

Para outros atores presentes na audiência pública, temas mais sensíveis deveriam ser discutidos, como passe livre, mobilidade urbana e a criação de um conselho municipal de transporte coletivo. “A sociedade civil organizada já entende a importância da criação urgente do conselho municipal de transporte coletivo em Juazeiro, tendo em vista que não se faz gestão sem a participação da sociedade civil”, comentou Adriano Gomes, usuário do transporte. O jornalista Demontieux Fernandes foi ainda mais enfático ao criticar os preços praticados na região. “A empresa jogou fora todos os cobradores. Reduziu suas despesas. Para onde foi o lucro?”, questiona. 

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