Nos últimos cinco anos, quase três mil pessoas esperaram pelo menos um mês para iniciar o tratamento contra algum tipo de câncer no Cariri. Ao todo, são 2.982 pacientes, ou seja, 34% do total de 8.748 diagnósticos desde janeiro de 2019, conforme levantamento do Jornal do Cariri, em bases de dados do Sistema Único de Saúde. Existem casos de pacientes que aguardam há mais de dois anos pelo início do tratamento oncológico, enquanto o prazo máximo estabelecido em lei é de 60 dias.
As chances de cura estão diretamente relacionadas ao estágio em que a doença é diagnosticada, segundo o cirurgião oncológico Diego Santos. Ele detalha que, quando a doença é identificada em fase inicial, “mas há demora para iniciar o tratamento, seja cirurgia, quimioterapia ou radioterapia, consequentemente o estágio do tumor pode progredir”, reduzindo as perspectivas de recuperação completa.
A fila de espera superior a um mês era composta por 778 pacientes em 2019 e subiu para 793 no ano seguinte. Em 2021, houve uma redução para 593 pessoas, voltando a saltar para 795 pacientes em 2022. A fila de espera em 2023 é de 77 pessoas entre janeiro e julho. A maioria de 53 pessoas aguardou entre 30 a 60 dias, enquanto 20 entre 61 a 90 dias e quatro até 120 dias. Outros 273 pacientes foram assinalados como “Sem informação de tratamento”.
Referência no tratamento oncológico no Cariri, o Hospital e Maternidade São Vicente de Paulo, em Barbalha, alterou a logística e ampliou serviços para reduzir o tempo de espera dos pacientes. O diagnóstico e exames complementares, como análises laboratoriais, biópsias e tomografias, geralmente em cidades pequenas, são os principais desafios que o hospital enfrenta para otimizar o tratamento, conforme o vice-diretor da unidade, Shairon Alexandre. “Muitos dos municípios são pequenos e não conseguem que o paciente realize os exames em tempo hábil, sejam pré-operatórios ou para que ele comece o tratamento clínico”, explica Shairon.
A ampliação de recursos em repasses dos governos Federal e Estadual possibilitou a reestruturação do serviço em Barbalha. “Não vamos mais encaminhá-los para o município de origem, mas vamos resolver todos os exames internamente, para que ele consiga o tratamento de imediato”, garante Shairon, ao explicar que o objetivo é reduzir a espera.
O vice-diretor acredita não haver necessidade de ampliar a rede de tratamento contra cânceres na região do Cariri, já que o hospital barbalhense pode aumentar o número de atendimentos em até 50% da quantidade atual. “O que precisa melhorar é a linha de apoio ao diagnóstico, que é o exame ser realizado o quanto antes e, dentro do modelo que adotamos internamente, 95% dos exames já vão realizar aqui para não ter que voltar para o município”, conclui.
O Ministério Público do Ceará cobra a ampliação da rede de atendimento oncológico no Estado. Em audiência pública, promotores de Justiça apresentaram queixas sobre crescimento da demanda, redução da oferta de serviços de oncologia e imprecisões na regulação de leitos e fluidez de procedimentos. A Secretaria Estadual de Saúde recebeu prazo de cinco dias para apresentar “informações fidedignas sobre a fila para consulta oncológica em todas as regionais de saúde do Ceará”.
O governador Elmano de Freitas planeja apresentar um “grande projeto para o tratamento do câncer no Ceará” aos senadores e deputados federais cearenses, buscando destinação de verbas. A regionalização de saúde, em curso desde 2020, visa evitar deslocamentos de pacientes do interior para Fortaleza. O Estado também anunciou a abertura de serviço oncológico no Hospital Regional do Vale do Jaguaribe.
“Mas eu quero espalhar isso para o Ceará inteiro”, disse, citando o Cariri. “Eu preciso ampliar, e o que eu penso é que poderíamos fazer um grande entendimento político de que, efetivamente, as pessoas que hoje sofrem com câncer no Ceará merecem de nós absoluta unidade por mais diferenças políticas que nós possamos ter”.