Obras do Canal do Rio Granjeiro avançam com foco em saneamento e drenagem
Falta de saneamento impacta o meio ambiente e a saúde pública
Foto: Joaquim Júnior
Joaquim Júnior
14/10/25 9:00

O município de Crato, que historicamente tem como um de seus maiores gargalos o Canal do Rio Granjeiro, já registrou inúmeras chuvas que fizeram o reservatório transbordar e atingir casas e comércios do entorno. Um dos piores cenários registrados, lembrado até hoje pelos cratenses, foi a tragédia ocorrida em 28 de janeiro de 2011, quando centenas de residências e estabelecimentos comerciais foram inundados e danificados pela enchente. Agora, obras realizadas pela Prefeitura do Crato e pela Ambiental Crato tendem a mudar o cenário.

A dona de casa Ângela Maria, que mora nas proximidades do canal, foi uma das pessoas prejudicadas. “A gente já perdeu muita coisa aqui, devido às enchentes. Ficamos sem nada”, lembrou, ao contar que, na porta de casa, há uma espécie de tela, utilizada como barreira para evitar a entrada de água no período chuvoso. Por sua vez, José Renildo, comerciante que trabalha em frente ao canal, comentou que os transtornos são recorrentes e que já causaram vários prejuízos a pessoas próximas. “É um sério risco - até de vida - quando tem as enchentes”, mencionou, ao dizer que espera que, com as obras atualmente realizadas, a situação melhore.

Desde o ano de 2007, o Brasil conta com a Política Federal de Saneamento Básico, instituída por meio da Lei nº 11.445, de 05 de janeiro de 2007, e atualizada pela Lei nº 14.026, de 15 de julho de 2020. Juntas, as leis integram o Marco Legal do Saneamento, voltado à universalização da oferta de água potável, além da coleta e do tratamento de esgoto para toda a população brasileira. Para isso, a legislação vigente apresenta metas que devem ser atingidas até o ano de 2033, quando 99% da população brasileira deverá ter acesso à água tratada e, ao menos 90%, à coleta e ao tratamento do esgoto. 

Também a nível nacional, uma Proposta de Emenda à Constituição, a PEC/2026, que reconhece o acesso ao saneamento básico como um direito constitucional, foi aprovada pelo Senado no primeiro semestre de 2025. No texto, já encaminhado para avaliação da Câmara dos Deputados, há modificação do artigo 6º da Constituição, ao incluir o saneamento entre direitos sociais como educação, segurança, saúde, entre outros. Para atingir o objetivo, todas as esferas de Governo, seja Federal, Estadual e Municipal, são convidadas a somar esforços junto aos órgãos da Administração Pública e à Sociedade Civil.

Saúde e meio ambiente

Dados mais recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), presentes no Censo Demográfico, apontam que, no ano de 2022, mais de 37 mil pessoas residiam em locais com fossa séptica, ou fossa filtro não ligada à rede, no município de Crato. Os dados sobre o escoamento de esgoto nos domicílios impactam diretamente na saúde pública, no meio ambiente e na qualidade de vida da população.

Como aponta Artur Machado, médico de família e comunidade, o saneamento básico é primordial para a prevenção de agravos à saúde, principalmente entre patologias ligadas às condições sociais da população. “Hepatite A, diarreia, verminoses e arboviroses são os principais exemplos de doenças prevalentes em nossa região e que sazonalmente se comportam como os principais motivos de procura dos serviços de saúde”, pontuou o profissional.

O médico ressaltou, ainda, que a falta de saneamento impacta economicamente o Sistema Único de Saúde (SUS), responsável pela condução de agravos que poderiam ter sido evitados com boas condições de distribuição de água potável, coleta e tratamento de esgoto, drenagem urbana e coleta de resíduos sólidos. “Portanto, a universalização do saneamento básico é uma questão de saúde pública e se configura como um avanço na prevenção de doenças e promoção de saúde”, conclui.

De acordo com o biólogo Deyvisson Nascimento, o saneamento básico nada mais é que o conjunto de serviços públicos necessários para o desenvolvimento da saúde social. “Não se trata só de esgoto e sanitários, mas também de limpeza urbana, drenagem de águas pluviais, abastecimento de água potável e manejo de resíduos sólidos”, afirma, ao lembrar que o saneamento básico não se refere somente à saúde humana, mas também tem ligação direta com a saúde ambiental, visto que, sem os devidos cuidados e manutenções adequadas, os resíduos e rejeitos humanos trazem malefícios para o meio ambiente.

“A utilização desses serviços públicos, quando em vigor, é crucial para o meio ambiente, pois quando o esgoto é tratado adequadamente, quando os resíduos são destinados a pontos de coletas especializados, se impede a contaminação de rios, lagos e solos por esgoto e lixo, protegendo ecossistemas aquáticos e terrestres. Dessa forma, é necessário compreender que o saneamento básico não é só responsabilidade social, mas ambiental também. Para uma população estar saudável, o meio ambiente precisa estar saudável também. E, dentro do ambiente urbano, isso só é possível com um saneamento básico bem estruturado, educação ambiental e responsabilidade socioambiental”, enfatiza.

Obras no Canal do Rio Granjeiro

O conjunto de obras no Canal do Rio Granjeiro, em Crato, inclui drenagem, despoluição e a instalação de um coletor-tronco no sistema de esgotamento sanitário. Juntas, as iniciativas, que têm à frente a Prefeitura do Crato e a Ambiental Crato, contribuirão na diminuição de efluentes lançados no local, na diminuição dos transtornos comumente causados por alagamentos e na mudança de cenário no cartão-postal cratense.

Foto: Joaquim Júnior

Pela Prefeitura do Crato, as obras terão três etapas, em parceria com o Governo do Estado e o Governo Federal. A obra será composta de bacia de amortecimento – que reduz os picos de vazão na entrada do canal; canal principal – com direcionamento das águas do Rio Granjeiro das contribuições urbanas; dissipador – para reduzir a velocidade da água no final, que seguirá o leito natural; e urbanização – com pavimentação de vias e calçadas ao longo do canal. As obras vão triplicar a vazão do equipamento, que agora vai ser de 270 m³/s.

“Como filho do Crato e engenheiro civil responsável por essa obra, considero a obra do século para o nosso município. O projeto levou em consideração a vazão e a velocidade necessária para não acontecer os transtornos que vêm acontecendo com todo inverno no nosso município, como enchentes e destruição”, apresentou o representante do Governo do Estado, José Muniz, gerente operacional da Superintendência de Obras Públicas (SOP) no Cariri.

Por parte da Ambiental Crato, o Canal receberá o maior coletor-tronco do sistema de esgotamento sanitário do município, através de obra que possui investimento superior a R$ 2 milhões. Com a tubulação, que conta com 3 km de extensão, e a finalização da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) Granjeiro, aproximadamente seis mil imóveis e 20 mil pessoas serão beneficiadas em bairros como Pinto Madeira, São Miguel, Centro e Gesso.

Tadeu Bezerra, gerente executivo na Ambiental Crato, explica que o coletor-tronco é uma tubulação com diâmetro maior. O caminho do esgoto será como o funcionamento de uma cidade: ele vai passar por várias “ruas” menores e entrar numa “avenida” mais larga. “Esse coletor-tronco, essa tubulação maior vai receber em torno de 50% de todo o esgoto que vai ser coletado dentro do município, para ser direcionado à estação de tratamento. Então, ela é uma das principais obras a ser realizada dentro do município” conta. Com a obra, a estimativa é que seja retirado 80% do volume de esgoto que atualmente é despejado no Canal.

Como avalia Tadeu, as obras da Ambiental Crato e do Município se complementam. “Entramos fazendo um coletor para poder retirar esse esgoto do canal e, com isso, com a reestruturação, o canal será utilizado de forma adequada para a finalidade dele, que é captar água de chuva”, afirmou. Hoje, cerca de 80 milhões de litros de esgoto são coletados e tratados mensalmente. Com a Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) Granjeiro, esse volume tende a chegar a aproximadamente 140 milhões de litros/mês.

Das residências à rede de esgoto

O município de Crato possui, atualmente, cerca de 25% de cobertura de esgotamento sanitário. No início dos serviços da Ambiental Crato, o número era de 3%. O objetivo é que, ano após ano, ocorra o crescimento na cobertura local até que chegue a 90% em 2033, como almeja o Marco do Saneamento. Até lá, os distritos de Dom Quintino e Ponta da Serra também estarão entre os beneficiados com as obras de esgotamento sanitário.

Para que a transformação ocorra de fato, Tadeu Bezerra diz ser necessária a participação da população, para desativar as fossas, retirar o lançamento de esgotos na rua e interligar as residências ao sistema, o que deve, inclusive, reduzir o esgoto a céu aberto e diminuir a incidência de mosquitos como muriçocas. “Então, todas essas ações vão ajudar a transformar o nosso ambiente onde a gente vive”, relata.

Conforme explicou o gerente, para que seja possível que os moradores direcionem o esgoto à rede coletora, as calçadas contarão com um sistema onde eles poderão fazer a conexão. Segundo Tadeu, a tarifa da nova prestação de serviço, que é a coleta e tratamento de esgoto, colabora para o tratamento correto do esgoto que vai para as estações, e engloba o trabalho das equipes que vão a campo, fazem desobstruções de rede, reparo, etc.

Para entender mais sobre o assunto, Tadeu cita que a Ambiental Crato, através do projeto Portas Abertas, recebe a população para esclarecer sobre atuação, funcionamento etc. “É importante a população até vir nos visitar para entender cada vez mais o serviço que ela tem disponível na sua residência”, finaliza.

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