“A cultura para mim vem de tradição”, anuncia Mestre Nena, aos 71 anos. Nascido no Sítio Malhada, município do Crato, o menino Francisco Gomes Novaes começou sua jornada como brincante em um dia fatídico: 12 de maio de 1963. Aos 12 anos, incorporou-se como figura no Reisado do Congo do Mestre Moisés de Castro, chegando a ser embaixador e contra mestre.

Na tradição do reisado Mestre Nena encontrou o divertimento e a cultura, enquanto tirava da agricultura o sustento. Aos 18 anos de idade, acompanhado por Mestre Aldenir, visitou terreiros celebrando o Dia de Reis, nascendo então o desejo de criar seu próprio grupo de reisado no Sítio Altos, juntos dos amigos Chicô e Decir. Com 22 anos casou-se com Maria Gorete Ribeiro, com quem teve 11 filhos.

Depois de um ano de estiagem e sem boa colheita, Francisco Gomes mudou-se para Juazeiro do Norte no início dos anos 90, onde integrou grupos de reisados, chegando a brincar com Mestra Margarida, Mestre Sebastião e com o Carroça de Mamulengo. Em 2006 fundou seu próprio grupo de reisado, os Bacamarteiros da Paz, único grupo de bacamarteiros da região do Cariri, que segue em atuação até os dias atuais.

Mestre Nena é considerado Tesouro Vivo do Ceará pela Secretaria de Cultura (Secult). No dia 21 de janeiro de 2023 denunciou uma abordagem violenta por parte de policiais militares de Juazeiro do Norte, relatando que ele e seus filhos foram agredidos física e psicologicamente, além de um disparo de arma de fogo ter sido efetuado. Amigos e familiares do Mestre tomaram providências sobre o episódio. “Não sou muito conhecedor, mas acredito que a cultura deva ser valorizada. Tenho certeza do que falo: em nenhum momento eu errei. Eu vou continuar até o fim da batalha, não só por mim, mas por todos que moram em Juazeiro. Quem eu vejo sofrer e ser agredido são os pobres e pretos, porque somos desvalorizados. A gente precisa ser tratado com respeito ”, finaliza Mestre Nena.