Jornal do Cariri
Manifesto repudia produção de soja na Chapada do Araripe
Atividade têm preocupado organizações, coletivos e defensores do meio ambiente.
Google Earth / Sentinel 2, Copernicus ESA/Marco Zero
Luan Moura
28/12/21 19:00

O desmatamento da flora e a perfuração de poços para o abastecimento de plantações de milho e soja, na Área de Preservação Ambiental (APA) da Chapada do Araripe, têm preocupado organizações, coletivos e defensores do meio ambiente. As atividades são consideradas potencialmente poluidoras do solo, da água e do ar, e podem ocasionar sérios impactos para a floresta e sua biodiversidade. Denúncias de moradores do distrito de Dom Leme, em Santana do Cariri, apontam que uma empresa adquiriu áreas na região, o que pode indicar a expansão da atividade de produção, que começou em uma área de aproximadamente 500 hectares, na cidade de Exu (PE).

O Jornal do Cariri conversou com a bióloga Raquel Soares, que atua na ONG BiodiverSe e observa que o desmatamento tem ocorrido em um curto período de tempo e ameaça cerca de 28 espécies da fauna e da flora, sem contar outras espécies que não são estudadas, mas que serão atingidas. “Toda atividade que gera desmatamento vai impactar diretamente na fauna, pois estamos reduzindo o habitat das espécies da região, diminuindo a qualidade do ambiente, aumentando o conflito humano com essas espécies e, consequentemente, gera a perda da biodiversidade. Por isso, é tão importante utilizar-se de modelos de produções sustentáveis, que garantam menores impactos possíveis e que não utilizem agrotóxicos”, destacou a bióloga, que citou as abelhas “Apis Mellifera”, espécie que encontra-se em extinção e precisa ficar a uma distância de pelo menos seis quilômetros de agrotóxicos.

Outra preocupação dos ambientalistas é o impacto provocado na agricultura familiar e os pequenos produtores do platô da Chapada e a desapropriação de grandes quantidades de terras. Raquel conta que o modelo conservador do agronegócio se aproveita das condições e das limitações sociais da região para adquirir terras em grande escala e por baixos custos. “No início, a mão-de-obra local pode ser aproveitada em partes para o trabalho braçal, mas depois restam atividades mecanizadas, e as pessoas locais se vêem na necessidade de buscar meios de sobrevivência na cidade. Nenhum dos 33 municípios que compõem a Área de Proteção Ambiental da Chapada do Araripe produz soja. Aprovar esta atividade aqui é conceder a porta de entrada para uma acelerada expansão da atividade”, conclui a bióloga.

A empresa possuía licença concedida pela Agência Estadual de Meio Ambiente do Estado de Pernambuco/ CPRH, no entanto, após uma fiscalização e emissão de relatório nº 41/2021 do NGI ICMBio Araripe (Processo SEI 02124.003717/2021-75) enviado à CPRH, a autorização foi suspensa temporariamente para adequação às diversas questões legais precedentes e necessárias que não foram atendidas. Agora, organizações, coletivos e entidades defensoras do meio ambiente elaboraram um documento que será enviado aos órgãos competentes, com o objetivo de denunciar o desmatamento das florestas e a escavação de poços e barrar o cultivo de milho e soja na Chapada. O mesmo documento foi transformado em uma petição pública e já conta com 1.500 assinaturas de pessoas físicas.

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