Gravações revelam negociata entre Darlan e ex-policial militar
Jornal do Cariri teve acesso exclusivo a conversas
Foto: Reprodução
Redação
09/03/21 0:00

“Ele disse: ô, vou lhe dar 20 (R$ 20 mil) - entendeu como é não? - pra você ficar com o processo até o final”. A fala é do ex-policial e youtuber João Paulo Ramos, em diálogo com um negociador que fala em nome de Márcio Joias, vereador de Juazeiro. O trecho é de um dos quatro áudios obtidos com exclusividade pelo Jornal do Cariri, e se refere ao presidente da Câmara, Darlan Lobo (PTB), que pagou R$ 19 mil para que o pedido de cassação contra o prefeito Glêdson Bezerra (Podemos) fosse mantido.

“O processo para continuar foi 20 (R$ 20 mil). Tá faltando mil (R$ 1 mil) ainda. Nem a palavra, ele cumpriu”, completa João Paulo, argumentando que Darlan não cumpriu com o prometido. Os áudios comprovam o interesse do presidente da Câmara em seguir com o processo contra o prefeito Glêdson.

Na conversa, João Paulo diz que pensou em desistir, mas foi encorajado por um advogado, chamado Igor, a continuar. “Aí, eu disse: rapaz, eu vou tirar esse processo [...]. Aí, falei para o advogado, Dr. Igor, aí ele disse: ei bicho, pois não tire não. Tem um cabra ali que tem interesse nesse processo teu aí, porque vai cassar a chapa (Glêdson e Giovanni) e ter nova eleição”. No dia 1º de março, o juiz da 3ª Vara Cível, Renato Esmeraldo, suspendeu a tramitação do processo na Câmara de Juazeiro.

Em outro áudio, João Paulo fala sobre o jogo perigoso em que está e revela extorsão a prefeitos. “Eu hoje em mais de 10 municípios. O menor que eu tenho é três contos (R$ 3 mil). Agora, faça as contas. Oxe, comprando um carro zero pra mamãe, de R$ 130 mil. Ia comprar; é porque não tinha lá”, revela.

Questionado sobre a possibilidade de Darlan não cumprir com o acordo, já que ainda faltam R$ 1 mil, João Paulo revela que o esquema começou ainda na campanha eleitoral. “Não é que Darlan não cumpriu, deixe eu explicar. Eu fiz uma situação com ele (Darlan) na campanha, por R$ 20 mil. Aí fechei, pronto, beleza. Ali né um acordo? Você tem que cumprir esse,”. Darlan teria prometido outros R$ 200 mil, caso a cassação de Glêdson fosse concretizada.

João Paulo garante que recebe direto, do presidente, material para fazer denúncias. “Ele (Darlan) me manda as coisas. O que ele me manda, eu olho o que dá pra publicar e o que não dá, entendeu?”. A rede de extorsão montada por João Paulo incluía, além de prefeitos, outros vereadores. Segundo mostram as gravações, o vereador Fábio do Gás (Rede) chegou a pagar R$ 12 mil para ter seu nome preservado no canal. João Paulo já planejava extorquir outros parlamentares. “Ei, só tem ele (Marcio Joia) não. Tem Adauto, tem tanto, tem tanto...”

João Paulo disse que não escondia de suas vítimas que o terror iria continuar após um ano. “O que é que eu digo sempre: meus acordos é de um ano. Depois começa de novo. Não é para a vida toda não. É um ano. Se quiser acertar é desse jeito. Se não quiser, deixe pra lá”. João Paulo Ramos foi preso em flagrante no dia 1º de fevereiro, depois de receber R$ 7 mil do vereador Marcio Joias, que o denunciou pela extorsão. Antes do desfecho final, João Paulo dá um conselho ao negociador, que fala em nome de Márcio Joias: “Cuidado só nas gravações. Se ele gravar, nós se acerta tudim assim, começa o faroeste”, afirmou.

O presidente da Câmara de Juazeiro do Norte foi procurado pela equipe do Jornal do Cariri, por meio de ligações telefônicas e mensagens de WhatsApp, mas não obtemos resposta até o fechamento desta edição.

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