Filme caririense conta história de mulher escravizada
Filme contempla ancestralidade, racismo estrutural e apagamentos históricos
Foto: Marllon Dantas
Joaquim Júnior
21/10/25 10:30

Uma mulher escravizada foge das perversidades do Barão de Aquiraz e do capitão do mato. Entre perseguição e resistência, forças encantadas se fazem presentes. A premissa faz parte da sinopse do filme "Nazara", que mergulha em memórias silenciadas e resgata fragmentos da história oral de uma mulher preta, escravizada, cuja trajetória ecoa na comunidade remanescente de Quilombo no Carcará em Potengi. O projeto tem direção da cineasta Cheyenne Alencar, codireção de Alisson Flor e produção da Fulô Filmes com recursos da Secretaria da Cultura (Secult) do Ceará por meio da Lei Paulo Gustavo. O longa será exibido no dia 28 de outubro, às 14h, no Auditório do Centro Cultural Banco do Nordeste Cariri

A ideia de "Nazara" nasceu de uma inquietação profunda em relação às histórias silenciadas da região caririense. “Durante pesquisas e conversas com moradores mais antigos da comunidade remanescente de Quilombo no sítio Carcará, chegamos à memória oral de uma mulher negra escravizada chamada Nazara, cuja história foi passada de geração em geração na comunidade”, relembrou Cheyenne. A história faz uma conexão à casa do Barão de Aquiraz, situada em Assaré, onde os moradores contam que a escravizada fugiu de lá até o Sítio Carcará.

“A partir daí, senti a necessidade de transformar essa narrativa em um curta ficção, como forma de dar visibilidade a uma memória que, de alguma maneira, resistiu ao tempo”, relatou, ao dizer que o processo foi longo e durou anos: envolveu escutas comunitárias, levantamentos históricos e roteirização, pré-produção, gravações no próprio local onde a história se originou e, por fim, a montagem e a finalização

“Foi um caminho construído com muito cuidado, responsabilidade e, principalmente, com escuta e respeito à memória coletiva”, afirmou Cheyenne, citando que, embora seja um curta ficção, "Nazara" nasce de uma história real, contada oralmente por gerações. “A personagem principal carrega o nome e a força da mulher negra que viveu no Sítio Carcará no século XIX. A ficção entra como ferramenta artística para dar corpo, voz e movimento a uma história que a história oficial muitas vezes apagou”, completou.

O projeto envolveu cerca de 40 pessoas diretamente, entre equipe técnica, elenco, acessibilidade e comunidade local. A maioria é do Cariri, formada por profissionais e estudantes da região. Como acredita Cheyenne, "Nazara" não busca somente retratar um passado, mas também questiona o presente e provoca reflexões sobre memória, racismo estrutural e resistência. “Espero que os espectadores saiam do filme tocados e com a consciência de que lembrar é um ato de justiça”, enfatiza a diretora, que usou da pesquisa e da sensibilidade para mergulhar na temática do período escravocrata.

Além de "Nazara", Cheyenne Alencar já produziu outras obras e ações culturais que têm como essência a valorização da memória, das histórias orais e da força do território. “Fazer arte no Cariri é um ato de resistência e amor. É olhar para o nosso chão e reconhecer a potência que existe aqui. Mesmo diante dos desafios, seguimos contando nossas próprias histórias com autenticidade, construindo um cinema que nasce das pessoas e para as pessoas”, conclui a diretora. Para acompanhar as produções, siga as nas redes sociais da Fulô Filmes: @fulo.filmes.

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