Recém-lançado nas plataformas digitais, o curta-metragem “5 minutos sem perder a amizade” apresenta a história de Noé, um adolescente morador da comunidade do Horto, em Juazeiro do Norte. Entre pipas no céu e subidas em árvores, o espectador acompanha a história do personagem, que vive cercado por amigos e brincadeiras em uma realidade marcada também pela violência. O elenco é formado por moradores locais, integrantes do grupo A Meninada do Horto. O filme, inicialmente exibido no Cine Eldorado-Cantina Zé Ferreira, em Juazeiro do Norte, é fruto do “Bora fazer um filme?”, projeto colaborativo que contou com o patrocínio do Governo do Estado do Ceará, através da Cagece.
Murilo Cesca, diretor do curta, conta que a ideia de olhar para o tema da violência não surgiu, mas está presente e é urgente não somente em Juazeiro do Norte, mas em todas as cidades do país, principalmente nas periferias. No filme, o personagem principal assiste à prisão do pai, e passa a ser questionado sobre por quem vai ser cuidado e para qual lugar irá. “Não temos uma resposta para o roteiro. Fizemos um filme justamente para compartilhar e lançar para o mundo a nossa reflexão através da dúvida, que acreditamos ser de muitas crianças e jovens que têm seus pais e mães levados e/ou assassinados em ações policiais”, conta.
Nesse sentido, Murilo afirma que a mescla entre ficção e realidade presente na obra é resultado de muito ensaio, escuta, reflexão, percepção e criação coletiva, em que tudo, desde locações, figurinos e cabelos, até o time que o protagonista torce foi discutido e decidido no grupo. Ensaios e oficinas teóricas e práticas de fotografia, roteiro e interpretação encontraram, ainda, uma pitada de improviso, como na cena das pipas. Um ponto fundamental que o diretor destaca para a criação do filme foi assistir e discutir outras produções que dialogassem com os temas e faixa etária. “O projeto foi pensado para ser realizado no período de férias escolar e transição do virtual para a volta ao presencial. As primeiras reuniões foram on-line e os ensaios e rodagem coincidiram com o inicio da vacinação infantil e todo mundo vacinou. Não tivemos nenhum caso de covid-19”, conta.
Como lembra o diretor, as ruas lotavam de pessoas que assistiam às filmagens. “Acredito que todos e todas entendemos e tivemos certeza que estávamos criando algo muito especial”, pontua Murilo, ao dizer que o clima das gravações era exatamente o que foi para a tela. O filme seguirá disponível até o final de março, gratuitamente, no canal da Me Voe Artesania, no YouTube. Posteriormente, será inscrito em mostras e festivais. Escolas, centros culturais e eventos públicos que desejem exibir o filme podem entrar em contato para que seja disponibilizado o arquivo em alta resolução.
Meninada do Horto
A Meninada do Horto nasceu como um grupo de teatro que ensaia na AVBEM - Ponto das Tradições. O grupo estreou com o espetáculo de máscaras "Teatro de Roda", em uma lona do Sesc armada para os romeiros na Igreja Matriz, durante a Romaria de Nossa Senhora das Candeias, em 2013. Em 2016, o grupo criou, com apoio do Centro Cultural Banco do Nordeste, a "Aparição do Boi Mansinho", espetáculo inspirado no imaginário presente na história e memória do boi santo, com apresentações na Mostra SESC Cariri, Festival Internacional de Máscaras do Cariri, romarias, ladeira do Horto, cortejos, praças. A base artística de todos e todas integrantes da Meninada está na lapinha, mais precisamente da Lapinha Bom Jesus do Horto, tendo Mestra Dorinha como principal referência e inspiração como arte educadora. “A presença da Mestra Dorinha como atriz e vó acolhedora no filme é também resultado da mescla entre ficção e realidade que buscamos. O mesmo vale para a brilhante participação do Mestre Bosco tocando seu violão no Santo Sepulcro”, finaliza Murilo, ao dizer que as mães apoiaram a produção na função de equipe de apoio (produção, alimentação, limpeza).
