Jornal do Cariri
Curso de Medicina da Urca oferece Libras
Intenção é possibilitar um atendimento mais humanizado e com acessibilidade à comunidade surda
Foto: Divulgação
Joaquim Júnior
04/10/22 12:20

Com mais de 30 pessoas surdas matriculadas nas instituições de ensino superior no Cariri, a região desponta como uma das que têm cobrado do poder público – e garantido, ao menos uma parte – os seus direitos. Entre as conquistas, está a inclusão da disciplina de Língua Brasileira de Sinais (Libras), enquadrada como atividades complementares de desenvolvimento pessoal, durante dois semestres, no Curso de Medicina da Universidade Regional do Cariri (Urca). A intenção é possibilitar um atendimento mais humanizado e com acessibilidade à comunidade surda.

De acordo com a professora Rerbelânia Pereira, a disciplina de Libras é obrigatória em todos os cursos de licenciatura e fonoaudiologia, tornando-se optativa nos demais cursos. “No entanto, a Urca também a mantém na grade curricular dos cursos de Medicina e Turismo, por compreender que esta cadeira é de fundamental importância tanto na formação de seus alunos, quanto na inclusão social”, afirma, ao dizer que o MedUrca, inclusive, é integrado ao Centro de Ciências Biológicas e da Saúde (CCBS) da Urca, e foca na Atenção Primária à Saúde, principal porta de entrada do Sistema Único de Saúde (SUS).

“Os alunos estudam Libras para comunicação básica, as diferentes visões sobre a surdez, o papel dos profissionais da saúde no atendimento do paciente surdo, aparato legislatório e práticas amenizadoras de barreiras encontradas no atendimento, principalmente na anamnese”, explica Rerbelânia. Como menciona, a maioria dos surdos evita ir ao médico por falta de acessibilidade comunicacional, já que nem sempre é possível a presença de um tradutor intérprete e, mesmo que ele esteja, o médico precisa ter noções específicas que diferenciam seus pacientes surdos dos ouvintes. “Entregar suas vidas a médicos que não sabem Libras pode ser muito perigoso. Por isso, meu trabalho é preparar estes alunos para atendimentos reais. Procuro desenvolver simulações práticas e envolvê-los com a Comunidade Surda do Cariri, para que melhor compreendam que não se trata apenas de uma disciplina, mas sim de uma causa”, completa a professora Rerbelânia, que leciona a disciplina nos cursos de Medicina e Turismo.

Conforme apresenta a docente, a Comunidade Surda tem ganhado visibilidade nas mídias sociais nos últimos anos e a Libras tem repercutido bastante, mas, apesar disso, enfrentam muitas barreiras. “A exemplo disto, temos o decreto nº 10.185/2019, publicado em 20 de dezembro no Diário Oficial da União, que extingue cargos como o de Tradutor/ Intérprete de Libras ao proibir a abertura de concurso público para funções técnico-administrativas das instituições de ensino. Com isso, a terceirização abre portas para profissionais menos preparados, uma vez que os critérios são baixados para contratação, devido ao salário menor. Além disso, os profissionais Tradutores Intérpretes não possuem um piso salarial, muitos deles atualmente trabalham 40h semanais e recebem em média de 1 a 2 salários mínimos, principalmente naesfera pública municipal e estadual”, comenta.

Relata Ariadna Zambelli, acadêmica do segundo semestre de Medicina da Urca, relata ter aprendido que existem duas visões sobre a surdez: a clínica-patológica, a qual define a surdez como uma doença a ser tratada; e a visão sócio-antropológica, que a compreende como uma variação da normalidade, apenas uma diferença. “Devido à percepção da pessoa não ouvinte sobre o mundo ser principalmente visual, a comunidade surda possui sua própria língua e cultura, que devem ser respeitadas e conhecidas por todos. Somente se dispondo a conhecer o outro é que podemos tratá-lo com respeito e humanidade. Primeiro, devemos enxergar as pessoas e não suas deficiências, pois elas não conseguem definir o ser humano em seu todo. São apenas uma pequena parte delas, não o mais importante. Esses ensinamentos me fizeram repensar minhas crenças e atitudes, além de me fazer compreender o meu papel social perante a causa da comunidade surda. Tornaram-me uma cidadã melhor e, certamente, uma profissional melhor no futuro”, afirma.

Até o término do semestre, estão previstas mais ações e palestras envolvendo diretamente os alunos com a Comunidade Surda. Como cita Maurício Menezes, aluno da disciplina, a oferta de Libras no curso de Medicina da Urca estrutura-se como um ponto inovador na formação acadêmica dos discentes, pois possibilita o contato com essa língua ao longo dos dois primeiros semestres. “Além do mais, irá promover a formação de futuros profissionais aptos a compreender as principais demandas dos seus pacientes surdos. Tal feito garante a humanização do cuidado e promove de modo exponencial a universalidade e a equidade na Saúde, haja vista a boa comunicação ser um fator imprescindível na relação médico-paciente, na compreensão das queixas e na condução resolutiva dos casos clínicos”, completa.

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