Consciência Negra: os desafios da luta antirracista
Luta contra o racismo deve ser feita todos os dias
Foto: Tânia Rêgo/ Agência Brasil
Joaquim Júnior
20/11/25 9:30

No Cariri, região que abriga um dos movimentos negros mais atuantes de todo o Ceará, o Grupo de Valorização Negra do Cariri (Grunec) exerce papel central na promoção da igualdade racial desde meados de 2001. No entanto, esta luta ainda enfrenta inúmeros desafios. O Dia da Consciência Negra, celebrado nacionalmente em 20 de novembro, ressalta o movimento histórico e a reafirmação da ancestralidade que compõe a identidade brasileira. A data também celebra o Dia Nacional de Zumbi, em homenagem a Zumbi dos Palmares.

Lívia Nascimento, coordenadora de Políticas Públicas para Promoção da Igualdade Racial da Secretaria Municipal de Direitos Humanos do Crato, destaca que o racismo é estrutural e se manifesta em todas as relações sociais e institucionais e que, por isso, é tão difícil superá-lo. Somente no município cratense, há registros de 17 vítimas de crime ou preconceito de raça ou cor, entre os anos de 2019 a 2024, conforme dados da Superintendência de Pesquisa e Estratégia de Segurança Pública.

“As consequências de um passado colonial e escravocrata ainda repercutem nos dados sociodemográficos atuais, que apresentam a precarização da vida das populações negras, indígenas, quilombolas, ciganas, entre outros grupos étnico-raciais em situação de vulnerabilidade causada pelo racismo. Seu enfrentamento, portanto, requer uma articulação igualmente estrutural, perpassando a atuação conjunta entre Estado e sociedade, englobando reformulação de leis, políticas públicas intersetoriais, sobretudo nas áreas de educação, saúde, segurança pública, assistência social, trabalho e renda. As ações afirmativas, enquanto medidas reparatórias, são importantes para promoção da equidade racial. A articulação dessas medidas em conjunto, certamente, irá transformar a dura realidade de desigualdades estruturais”, apresenta a coordenadora.

Como destaca Lívia, a maioria da população brasileira é negra, contudo ela ainda é minoria nos espaços de poder e de tomadas de decisões. Por isso, ela avalia que a presença negra em espaços deliberativos é de suma relevância para que seja possível incidir de forma mais efetiva na formulação de políticas públicas focalizadas. “É importante ocupar os conselhos, enquanto espaço de participação popular no poder público, não somente naqueles que tratam especificamente da questão racial, mas também nos de educação, saúde, criança e adolescentes, cultura, entre outros”, completa.

Lívia menciona, ainda, a importância de defender as proposições de projetos que priorizem o incentivo à implementação, efetividade e ampliação das políticas de ações afirmativas, principalmente pelo exercício do voto democrático. “Também é importante somar esforços nas ações promovidas pelos movimentos sociais negros, que sempre estão articulando agendas voltadas para promoção da igualdade racial. Como ensina a autora Nilma Lino Gomes em sua obra, o movimento negro é educador. Andando com eles aprendemos e compartilhamos formas de resistência, além de fortalecer a agenda antirracista”, conclui.

Censo 2022

Nos nove municípios que integram a Região Metropolitana do Cariri (RMC), segundo o Censo 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 60.981 pessoas se consideram pretas; 1.325 amarelas; 397.147 pardas e 785 indígenas. Na RMC, o maior percentual de pessoas pretas residentes em um município caririense está em Crato, com 12,61% da população local.

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