Coletivo celebra força do feminino e das ancestralidades
Atualmente, Coletivo está amadurecendo o mais novo trabalho, “Casa de Folhas”
Foto: Raquel Leite
Joaquim Júnior
29/08/23 10:00

As relações entre criação cênica e cultura ancestral inspiraram a pesquisa de Faeina Jorge, quando ainda era estudante do curso de Licenciatura em Teatro na Universidade Regional do Cariri. Como fruto, o Coletivo Avesso de Teatro nasceu, ainda no ano de 2017. Atualmente, o Coletivo é composto por Faeina, que é atriz, proponente, diretora, pesquisadora e criadora intérprete em dança; Andecieli Martins, atriz, criadora intérprete em dança e pesquisadora; e Yago Gomes, bailarino, pesquisador, operador e técnico de luz.

Filha de Santo do Terreiro de Umbanda Ilê Omin Odara desde o ano de 2014, Faeina explica que o caminho lhe propiciou um universo de investigação que se concentra, atualmente, na problematização da mulher, do corpo, da entidade e de sua força a partir desses seres divinos das Casas de Axé do Cariri - o que resultou nos espetáculos “OBINRIN” (2019), “FAIA” (2020) e, mais recentemente, “Casa de Folhas” (2023). Eles tratam do “ser mulher” e sua ligação com a terra e suas crenças, da celebração à força feminina e as ancestralidades, entre outros temas.

Foto: Raquel Leite

Como cita Faeina, ao produzir arte como forma de conhecimento social e cultural além dos teatros, “o Coletivo tem o objetivo de levar o trabalho para terreiro de Mestres da Cultura Popular e comunidades rurais e quilombolas a fim de dialogar saberes e romper as barreiras geradas em relação à cultura afro e ameríndio”. Assim, o projeto é desenvolvido de modo que, a cada apresentação no local escolhido, as criadoras intérpretes tenham um contato direto com a comunidade e se instalem no local proporcionando vivências, sobre o processo criativo.

“E, dessa forma, divulgar a realidade das comunidades quilombolas brasileiras e incentivar o diálogo entre as comunidades afrodescendentes, dando-lhes visibilidade e enfatizando as questões sociais, culturais, reconhecimento e participação social. Buscando ver um exercício reflexivo, crítico e sensível a fim de sejam ampliados o universo de leitura e experiência do público e dos artistas propositores”, completa Faeina.

Sendo assim, ela conta que “é imprescindível o afetar-se na troca, pois consideramos importante a criação coletiva, onde todas e todos possamos habitar, desde outros discursos, fazeres e sentidos recuperando os saberes populares, raízes ancestrais e outros olhares do espaço, da natureza, vivendo um tempo diferente e fazendo frente à imposição contemporânea. Por isso, a importância do intercâmbio com outros grupos, quilombolas, comunidades negras, lugares, paisagens, descobrindo uma terra em florescimento profunda, emancipada e descolonizada através das co/desconstruções de saberes, práticas e conhecimentos ritualísticos”.

O Coletivo já se apresentou em importantes Festivais e Mostras, como X Congresso Internacional Artefatos da Cultura Negra, XII Semana Dança Cariri (Festival Internacional de Dança), Mostra Cariri de Cultura em Iguatu, FAC Festival Das Artes Cênicas de Fortaleza, Festival das artes Cênicas de Souza Paraíba, Semana de Artes Cênico e Russas, entre outros. Em breve, ocorrerão apresentações no Centro Cultural do Cariri (CCC) e em Fortaleza, no Festival de Dança previsto para acontecer no mês de janeiro.

Para acompanhar as produções do Coletivo Avessos de Teatro, siga os perfis @faeinajorge ou e o @coletivoavessosdeteatro.

Conheça, abaixo, os espetáculos da Companhia Avesso de Teatros

OBINRIN (2019):

“Obinrin busca problematizar as diversas representações e leituras do ‘ser mulher’, sua ligação com a terra e suas crenças que, não raramente, são diminuídas e tratadas com superstição."

FAIA (2020):

“Faia surgiu em tempos pandêmicos e teve sua estreia no modo virtual na XI Semana Dança Cariri. O espetáculo é uma celebração à força feminina, às nossas ancestralidades onde a cura é fazer dançar os espíritos. Mulher/Corpo/Raiz,Corpo/Entidade, Corpo/Terra, Corpo/Fumaça... Em tempos tão difíceis, em que nos encontramos no silêncio, precisamos resgatar a nossa força interior, mostrando as diversas mulheres que nos habitam, e acreditar que a dança é cura da alma. Sempre vamos nascer/morrer/morrer/renascer nesse corpo caverna, corpo árvore.”

CASA DE FOLHAS (2023):

“O espetáculo ‘Casa de Folhas’ é o resultado do processo de investigação do projeto de pesquisa ‘Corpo Social que Transcende: Criação Cênica a Partir da Corporeidade Feminina das Catadoras de Pequi do Cariri Cearense’, proposto pela artista da cena Faeina Jorge em parceria com Andecieli Martins e colaboração da Mestra e Tesouro vivo da cultura cearense Maria de Tiê, junto ao Laboratório de Dança da Escola Porto Iracema das Artes em sua 10° edição. O projeto conta também com a colaboração artística de Aline Vallim(SP) e Cátia Costa(RJ). De forma poética, o espetáculo narra o cotidiano das mulheres quilombolas catadoras de pequi habitantes do Quilombo de Souza, localizado em Porteiras na região do Cariri Cearense. A dramaturgia do trabalho se organiza a partir de vivências das criadoras-intérpretes que foram recebidas por Mestra Maria de Tiê em sua casa no quilombo.

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