Chapada do Araripe tem 43 espécies ameaçadas
Perda de habitat integra razões para redução do estado de conservação
Foto: Nívia Uchôa
Joaquim Júnior
06/06/23 8:30

A Chapada do Araripe possui registradas 516 espécies da flora nativa e 450 espécies da fauna vertebrada.  Recentemente, foram descritas novas espécies que tem como local a Chapada do Araripe, sendo um caranguejo de água doce e um anfíbio. Do total, 43 espécies são registradas com algum grau de ameaça – sendo uma espécie da flora e cinco da fauna criticamente em perigo. As informações são do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).

Paulo Maier, analista ambiental do ICMBio, conta que não existe uma lista de espécies extintas na Chapada, entretanto, registros antigos dão conta de caçada de onça-pintada, avistamentos de tatú-bola e do envio de peles de outros animais desde a região, então é possível supor que atualmente estão extintas aqui na chapada do Araripe o tatu-bola, o tamanduá-bandeira e a onça-pintada, por exemplo. Há, ainda, casos de espécies como o porco-do-mato, dada como extinta que reapareceu.

“Tanto na chapada do Araripe quanto em outras regiões são conhecidas diversas razões para a redução do estado de conservação de espécies, podendo resultar na extinção”, explica Paulo. Entre as principais causas de perda de biodiversidade, ele elenca perda de habitat, ou seja, de ambiente de ocorrência de espécies, devido ao desmatamento para conversão de áreas para usos como edificação de residências (urbanização), implantação de empreendimentos, agricultura e pecuária, por exemplo; redução da qualidade do habitat, com fragmentação, abertura de estradas e trilhas, queimadas, extração seletiva, aumento dos ruídos (trânsito, fogos de artifício, aparelhagens de som, ...), contaminação por agrotóxicos, redução da oferta hídrica (barramentos, captação excessiva nas nascenstes e cursos d’água, ...); entre outros.

“Na Chapada do Araripe, temos todas estas causas ocorrendo e, muitas vezes, gerando efeitos sinérgicos. Um exemplo são os constantes parcelamentos excessivos de imóveis rurais gerando perda de habitat, redução da sua qualidade, risco de introdução de exóticas, inclusive invasoras, principalmente em áreas mais sensíveis ou que abrigam espécies ameaçadas de extinção, como é o caso do soldadinho-do-araripe nas encostas da Chapada do Araripe”, cita Paulo, a dar como exemplo também o potencial risco do uso de veneno nas casas e galpões para combate aos ratos sem os devidos cuidados – porque uma das espécies ameaçadas é justamente um rato do mato que também pode ser contaminado, assim como a aplicação de inseticida para combater mosquito da dengue, que pode contaminar o caranguejo recentemente descrito.

O analista ambiental aponta que a agenda para tratar do tema é bastante ampla, desde ações mais gerais de controle do uso de recursos naturais (criação e gestão de Unidades de Conservação, fiscalização ambiental, licenciamento ambiental, Zoneamento Econômico-Ecológico, estabelecimento de legislação protetiva, ...) até ações mais específicas. “A avaliação do estado de conservação é fundamental para permitir estabelecer prioridades e acompanhar a evolução das populações, inclusive frente aos esforços para reverter os fatores que geram as ameaças”, destaca..

Planos de Ação

Paulo afirma que a agenda para tratar do tema é bastante ampla e inclui de ações mais gerais de controle do uso de recursos naturais (criação e gestão de Unidades de Conservação, fiscalização ambiental, licenciamento ambiental, Zoneamento Econômico-Ecológico, estabelecimento de legislação protetiva, etc) até ações mais específicas. A avaliação do estado de conservação é fundamental para permitir estabelecer prioridades e acompanhar a evolução das populações, inclusive frente aos esforços para reverter os fatores que geram as ameaças.

No âmbito nacional, o ICMBio é responsável pela avaliação de fauna e o JBRJ (Jardim Botânico do Rio de Janeiro) pela avaliação do estado de conservação da flora. O processo conta com participação de especialistas em diferentes táxons (aves, mamíferos, répteis, ...) de diferentes regiões e instituições. O método utilizado acompanha a recomendação internacional (IUCN) e o Ministério do Meio Ambiente publica periodicamente a lista vermelha ou lista oficial das espécies ameaçadas.

Nos estados é a Secretaria de Meio Ambiente que coordena a avaliação das espécies e alguns municípios também publicam listas de ameaçadas para o seu território. Recentemente a Sema realizou a avaliação das espécies da fauna vertebrada e publicou listas com as diferentes classificações com relação ao grau de ameaça. Técnicos da região do Cariri participaram destas avaliações que foram coordenadas pelo Programa Cientista Chefe.

Após a publicação da lista, são elaborados planos de ação que no governo federal são denominados PAN – Plano de Ação Nacional para Conservação de espécies e podem ser planos estaduais e/ou municipais.

Originalmente os PAN abrangiam uma única espécie (PAN do Soldadinho do Araripe, por exemplo) e há uma tendência atualmente de elaboração de PAN para um grupo de espécies (PAN Aves da Caatinga) ou um determinado território (Plano de Ação Nacional para a Conservação do Patrimônio Espeleológico nas Áreas Cársticas da Bacia do rio São Francisco, p.ex.).

No caso do ICMBio, estes PAN são coordenados pelos Centros Nacionais de Pesquisa para Conservação como o Cenap (mamíferos predadores), Cemave (aves silvestres) e CECAV (cavidades subterrâneas). São elaborados em conjunto com especialistas, técnicos, agentes públicos, representantes de organizações da sociedade civil (ONG, Sindicatos, Associações, ...), de universidades, do poder público que definem a partir das ameaças, quais ações são prioritárias para num determinado período, com quais recursos, liderados por quem (articuladores) e com quais instituições melhorar o estado de conservação das espécies-alvo.

Cada PAN possui uma equipe responsável, dentre outros, pelo monitoramento anual para verificar avanços e problemas na execução das ações, corrigir rumos e propor retirada, alteração ou acréscimo de ações, instituições e articuladores.

São treze (13) PAN com ações previstas para serem realizadas na chapada do Araripe, envolvendo diferentes Unidades de Conservação e instituições públicas e privadas, com destaque para o PAN dos faveiros instituído este ano pelo JBRJ.

As ações previstas no PAN Soldadinho-do-araripe deverão ser incorporadas no PAN Aves da Caatinga em reunião agendada para agosto deste ano a ser realizada em João Pessoa/PB.

·       Plano de Ação Nacional para a Conservação de Cactáceas do Brasil, prioritariamente 28 espécies ameaçadas de extinção.

·       Plano de Ação Nacional para a Conservação do Patrimônio Espeleológico nas Áreas Cársticas da Bacia do Rio São Francisco - PAN Cavernas do São Francisco, estabelecendo seu objetivo geral, objetivos específicos, ações, prazo de execução, abrangência, formas de implementação e supervisão.

·       Plano de Ação Nacional para a Conservação do Soldadinho do Araripe - PAN Soldadinho-do-araripe, contemplando 1 táxon ameaçado de extinção, estabelecendo seu objetivo geral, objetivos específicos, prazo de execução, abrangência e formas de implementação e supervisão.

·       Plano de Ação Nacional para a Conservação das Aves da Caatinga - PAN Aves da Caatinga, contemplando 34 táxons nacionalmente ameaçados de extinção, estabelecendo seu objetivo geral, objetivos específicos, espécies contempladas, prazo de execução, abrangência e formas de implementação, supervisão e revisão.

·       Plano de Ação Nacional para a Conservação do Tatu-bola - PAN Tatu-bola, táxon ameaçado de extinção, estabelecendo seu objetivo geral, objetivos específicos, prazo de execução, abrangência e formas de implementação, supervisão, revisão.

·       Plano de Ação Nacional para a Conservação dos Canídeos Silvestres – PAN Canídeos, contemplando quatro táxons nacionalmente ameaçados de extinção, estabelecendo seu objetivo geral, objetivos específicos, espécies contempladas, prazo de execução, abrangência e formas de implementação e supervisão.

·       Plano de Ação Nacional para a Conservação dos Grandes Felinos - PAN Grandes Felinos, contemplando 2 táxons nacionalmente ameaçados de extinção, estabelecendo seu objetivo geral, objetivos específicos, espécies contempladas, prazo de execução, abrangência e formas de implementação, supervisão e revisão.

·       Plano de Ação Nacional para a Conservação da Herpetofauna ameaçada do Nordeste - PAN Herpetofauna do Nordeste, contemplando 46 táxons ameaçados de extinção, estabelecendo seu objetivo geral, objetivos específicos, espécies contempladas, prazo de execução, formas de implementação, supervisão, revisão e institui o Grupo de Assessoramento Técnico.

·       Plano de Ação Nacional para a Conservação dos Pequenos Felinos - PAN Pequenos Felinos, contemplando seis táxons nacionalmente ameaçados de extinção, estabelecendo seu objetivo geral, objetivos específicos, prazo de execução, formas de implementação, supervisão e revisão.

·       Plano de Ação Nacional para a Conservação dos Pequenos Mamíferos de Áreas Abertas - PAN Pequenos Mamíferos - Áreas Abertas, contemplando 17 táxons nacionalmente ameaçados de extinção, estabelecendo seu objetivo geral, objetivos específicos e prazo de execução, formas de implementação, supervisão e revisão.

·       Plano de Ação Nacional para a Conservação do Patrimônio Espeleológico Brasileiro - PAN Cavernas do Brasil, contemplando 169 táxons nacionalmente ameaçados de extinção, estabelecendo seu objetivo geral, objetivos específicos, prazo de execução, formas de implementação, supervisão e revisão.

·       Plano de Ação Nacional para a Conservação dos Insetos Polinizadores Ameaçados de Extinção - PAN Insetos Polinizadores, contemplando 56 táxons nacionalmente ameaçados de extinção, estabelecendo seu objetivo geral, objetivos específicos, prazo de execução, formas de implementação, supervisão e revisão.

·       Plano de Ação Nacional para a Conservação dos Faveiros (Dimorphandra Schott) Ameaçados de Extinção - PAN Faveiros, contemplando dois táxons ameaçados de extinção, estabelecendo seu objetivo geral, objetivos específicos, espécies contempladas, prazo de execução, formas de implementação, supervisão e revisão.

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