Cariri em alerta vermelho para escalada da violência contra a mulher
Mais da metade dos casos de feminicídio do Ceará aconteceram no Cariri em 2024
Foto: Frente de Mulheres do Cariri
Regy Santos
09/12/25 0:00

A violência doméstica é uma realidade em muitos lares do Brasil. No Cariri, região em que se mata mais mulheres no Ceará [mais da metade dos feminicídios de todo o estado], o caso recente, em que uma grávida foi mantida em cárcere privado e agredida por dois anos, pelo companheiro e pela sogra - agressões que resultaram na perda do bebê , reacendeu o alerta sobre o quanto a sociedade ainda naturaliza o sofrimento feminino dentro do ambiente familiar.

De acordo com a Pesquisa Nacional de Violência Contra a Mulher, realizada pelo Senado Federal, 71% das agressões são testemunhadas por outras pessoas. Entre essas testemunhas, 71% são crianças. O dado revela o impacto intergeracional da violência e o ciclo de trauma que se prolonga dentro dos lares. Especialistas explicam que a presença de terceiros durante as agressões, especialmente menores, evidencia tanto a banalização da violência quanto a dificuldade das vítimas de buscar ajuda, seja por medo, dependência emocional ou financeira.

Diante de um cenário marcado por “um silêncio que mata”, o caminho para o enfrentamento está na educação e na transformação cultural. É o que reforça Verônica Isidoro, representante da Frente de Mulheres do Cariri. Para ela, combater a violência contra a mulher exige um esforço coletivo e contínuo. “Ou a sociedade se preocupa com a formação dos nossos meninos e meninas, ou não vamos avançar. É preciso quebrar a cultura machista existente, e isso só se faz com educação”.

A região do Cariri é, hoje, a que mais registra casos de violência contra a mulher e feminicídios no Ceará. Em 2024 foram 45 feminicídios em todo o Estado, sendo 24 mulheres mortas apenas nesta região. “É a região que mais registra violência contra as mulheres e feminicídio. E o Brasil ainda ocupa o quinto lugar entre os países mais violentos para mulheres”, afirma Verônica.

Apesar dos altos índices, ela destaca que a região concentra alguns dos principais equipamentos de acolhimento do estado, como a Casa da Mulher Cearense, em Juazeiro do Norte; a Casa da Mulher do Crato; Centros de Referência e ações interinstitucionais entre saúde, educação e assistência social. Mesmo com essa estrutura, a violência segue crescendo.

Verônica aponta que o aumento recente dos casos tem relação direta com discursos de ódio contra mulheres, fortalecidos, sobretudo, nas redes sociais. “As redes sociais têm criado espaços que chamamos de machoesfera, onde grupos como Red Pill e outros movimentos masculinistas propagam o ódio às mulheres. Esses ambientes influenciam comportamentos e reforçam a misoginia”, explica Verônica Isidoro

Para a representante da Frente de Mulheres do Cariri, a solução passa por uma ação conjunta entre governo, sociedade civil e instituições religiosas. “Precisamos de uma força-tarefa. Investir em formação, tecnologia, equipamentos e ampliar políticas públicas que acolham mulheres com dignidade. Queremos viver, terminar relacionamentos e continuar vivas”. Ela reforça que a ausência de mobilização dos homens também preocupa. “É assustador perceber que os homens, que são quem comete essas atrocidades, não se organizam para combatê-las”, afirmou.

Lula puxa campanha nacional

O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), também se manifestou sobre o tema, durante visita ao Ceará, na última semana, e afirmou: “Vagabundo que  bate em mulher não precisa votar em mim”, reforçando sua posição de enfrentamento à violência doméstica. A fala ocorreu um dia depois de Lula revelar que a primeira-dama, Rosângela Lula da Silva, pediu que ele assumisse uma postura mais firme na luta contra a violência de gênero. No Ceará, o presidente afirmou, ainda, que vai liderar um movimento dos “homens que prestam”. “Vou conversar com todos os poderes. Nós, homens que temos caráter, que tratamos as mulheres com respeito, não podemos aceitar que alguém ligado a gente, seja violento com a mulher”. As manifestações fazem parte de um conjunto de ações e discursos recentes do governo federal que buscam reforçar a urgência no enfrentamento ao problema, que permanece como um dos mais graves desafios sociais do país.

Elmano reforça a luta

No sábado (6), quando foi celebrado o Dia Nacional de Mobilização dos Homens pelo Fim da Violência contra as Mulheres, o governador do Ceará, Elmano de Freitas, falou sobre o tema através das redes sociais. “E que esse estado do Ceará, que foi o primeiro do Brasil a libertar os escravos, que a gente libere as mulheres da opressão e da violência que ainda tem em nosso estado”, relatou, ao convidar os homens a serem agentes de transformação e respeitarem a diversidade. “Os homens têm papel decisivo na construção de uma sociedade mais segura e justa. É preciso combater e denunciar. Reafirmo meu compromisso com políticas firmes”, disse.

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