A principal linha de investigação policial indica que a presidente da Câmara Municipal de Juazeiro do Norte, Yanny Brena Alencar Araújo, foi assassinada pelo namorado, Rickson Pinto, de 27 anos, que depois se matou. Os dois foram encontrados mortos, na manhã do dia 03 de março, na casa em que ela morava, no bairro Cidade Universitária, em Juazeiro. Evidências iniciais apontam que os dois podem ter travado luta corporal e que a parlamentar pode ter sido torturada antes de ser morta. A classificação do crime como feminicídio ampliou a comoção em torno do tema em todo o país.
Yanny Brena foi a mais jovem vereadora de Juazeiro do Norte, eleita em 2020, aos 24 anos, após ter recebido 3.956 votos pelo Partido Liberal (PL), sendo a segunda mais votada naquele ano, na maior cidade do Cariri. O primeiro ano de atuação dela como vereadora pode ser considerado como aprendizado, em um novo mundo que se abria. No segundo, projetos, discussões legislativas, realização de audiência pública e o contato corpo a corpo com as demandas da população a prepararam para lidar com o desafio de ser a segunda mulher e a mais jovem a presidir a Casa Legislativa, composta historicamente, em sua maioria, por homens.
Antes, ela chegou a usar as redes sociais para vender roupas, enquanto cursava Medicina. A profissão de médica era conciliada com as atividades inerentes ao cargo público de vereadora. Políticos que a conhecem projetavam um futuro promissor para a carreira política dela, sobretudo após a parceria com o irmão, o deputado federal Yury do Paredão (PL), que assim como ela, também desempenha o primeiro mandato eleitoral. Em seu último ato como presidente e vereadora, Yanny articulou e conseguiu aprovar um reajuste salarial para os servidores do Legislativo. “Na nossa gestão, o servidor público é respeitado e valorizado”, postou Yanny em redes sociais, em 28 de fevereiro.
Às vésperas do Dia da Mulher, celebrado em 08 de março, e do aniversário em que Yanny completaria 27 anos, na próxima sexta-feira, 10 de março, movimentos feministas caririenses exigem “que políticas públicas eficazes sejam executadas na educação e em todos os campos da sociedade, de forma a eliminar a violência de gênero, pois não há classe social que salve uma mulher da crueldade do machismo”.
Durante o velório da parlamentar, no sábado (4), o vereador Márcio Jóias garantiu o estabelecimento de parcerias, com os governos estadual e federal, além de deputados das duas esferas, para propor iniciativas de enfrentamento à violência de gênero. “Para que possamos diminuir essas covardias no Brasil, no mundo e, agora, em Juazeiro do Norte, com uma menina jovem e com um futuro promissor”.
A morte de Yanny interrompeu outras possibilidades de endurecer o combate as mais diversas violências praticadas contra mulheres. Isto porque a parlamentar já havia promovido uma audiência pública para discutir soluções para a temática e apresentado uma série de projetos de enfrentamento a crimes como o próprio feminicídio, provável causa da sua morte. Uma das iniciativas criaria a Procuradoria da Mulher na Câmara Municipal, responsável por receber e encaminhar aos órgãos competentes denúncias de violação de direitos das mulheres recebidas pelo Legislativo.
Além disso, Yanny planejava iniciativas que alcançavam a base estrutural da violência de gênero, tais como a luta contra o machismo e favorecer o acesso das mulheres à educação e ao mercado de trabalho. “Eu quero frisar muito a importância do direito da mulher, sobre a mulher que sofre feminicídio, que sofre preconceito, quero bater muito nessa tecla, vou vestir mesmo a camisa, pois acho que é muito importante”, disse Yanny, durante entrevista ao repórter Edson Freitas, no final de novembro de 2022, quando foi eleita presidente da Câmara.
Além do governador Elmano de Freitas, do ministro da Educação, Camilo Santana, do presidente da Assembleia Legislativa do Ceará, Evandro Leitão, e do deputado estadual Fernando Santana, políticos de Juazeiro também prestaram homenagens e foram além, destacando a habilidade política de Yanny. O vice-prefeito, Giovanni Sampaio, destacou a rápida ascensão da parlamentar: “Ela estava surpreendendo, apaziguando muita coisa na Câmara, fazendo boa articulação em um início de bom trabalho, que, sinceramente, eu pensava que ela teria muitas dificuldades, e que ela transpôs com muita facilidade”.
O prefeito de Juazeiro do Norte, Glêdson Bezerra, salientou uma maior abertura da Câmara às demandas do Poder Executivo apresentadas ao Legislativo, mediante projetos de lei e outras mensagens. “Ela vinha fazendo um excelente trabalho. Isso é incontestável. Em tão curto espaço de tempo, foram muitas as audiências públicas, as reuniões com o Poder Executivo. Eu mesmo participei de reuniões com a presidente Yanny. Avançamos em muitas pautas. Ela destravou vários projetos de lei”, comentou o prefeito, também dizendo acreditar que ela teria “um futuro muito promissor na política”.
*Investigações*
A Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) do Ceará e Polícia Forense (Pefoce), que investigam o caso, ainda não emitiram laudo oficial sobre as mortes. Em nota, a SSPDS apontou que a principal linha de investigação é que tenha ocorrido feminicídio seguido de suicídio, ou seja, Rickson matou Yanny e teria tirado a própria vida. Antes da morte da vereadora, outras sete mulheres já foram vítimas de feminicídio somente em 2023.
Pessoas que viram o corpo de Yanny após a morte relataram que a vítima estava com muitas lesões, como unhas arrancadas e machucados tanto no pescoço como no abdômen, o que levanta suspeita de luta corporal. Segundo o Diário do Nordeste, uma amiga da vereadora teria afirmado à polícia que Yanny não aguentava mais pagar as contas de Rickson. Fontes próximas a ela teriam dito, também, que ela estava insatisfeita e teria decidido terminar o relacionamento no último domingo de fevereiro (26).
