Jornal do Cariri
Artistas pedem prorrogação do prazo da Lei Aldir Blanc
Prazo final está marcado para 31 de dezembro
Lei Aldir Blanc abrange diferentes linguagens artísticas, mas categoria encontra dificuldades. Foto: Ricardo Alves
Joaquim Júnior
01/12/20 8:30

Desde que a Lei Aldir Blanc foi regulamentada pelo Governo Federal, municípios brasileiros realizam os trâmites necessários para que integrantes do setor cultural recebam auxílio financeiro. Em todo o país, o pacote será de R$ 3 bilhões e contribuirá com auxílio de R$ 600 em períodos de cerca de cinco meses. A medida foi criada durante a pandemia de covid-19, que impossibilitou que a comunidade artística de Norte a Sul do país desse seguimento às atividades culturais. Entretanto, os artistas – e até gestores – se queixam da burocracia enfrentada no cadastramento. Com a aproximação do prazo final, marcado para 31 de dezembro, foi criado o movimento #ProrrogaLeiAldirBlancJá, que tem a intenção de adiar o prazo até o final de 2021. Caso as gestões não consigam finalizar no tempo estabelecido, o valor retornará à União.

Edceu Barbosa, que atua como artista, produtor e pesquisador da cidade do Crato, cita que os trabalhadores da cultura foram os primeiros a pararem atividade devido ao contexto de pandemia e, provavelmente, serão os últimos a retornarem. Como aponta, o atual cenário, em um país que não possui política cultural, é desafiador. “Sem um Ministério de Cultura efetivo, que foi destruído, sem suas instituições, a exemplo da Funarte, que também está cambaleando, não imaginávamos que nesse contexto surgiria a Lei Aldir Blanc”, menciona, ao dizer que a lei é um respiro emergencial.

Em diálogos com diversos movimentos, ele cita que a Lei Aldir Blanc sinaliza que a maioria de estados e municípios não tem uma legislação que dê conta de operacionalizar os recursos. “Tanto que muitos municípios, hoje, já estão devolvendo dinheiro para os estados e alguns estados estão sob o risco de devolver dinheiro para a União”, relata. Ele enfatiza, inclusive, que isso não deve ser utilizado como justificativa, apesar de ser de consciência comum a existência da burocracia nos repasses de recursos. “Para se ter uma ideia, já tem uma média de quatro meses desde a aprovação e regulamentação da lei e não tem, ainda, nenhum dos incisos com recurso repassado aos artistas, grupos e coletivos”, conta, ao enfatizar que a burocracia é muito dura e que isso precisa ser revisto. Por conta da complexidade jurídica e burocrática, os artistas pedem a expansão do prazo até o final de 2021.

Um artista caririense que não quis identificar explica que, por meio de editais, são apresentados incisos voltados ao público artístico. Como informou, os incisos I e III são de responsabilidade do Estado – sendo que o primeiro é auxílio aos trabalhadores e o terceiro é de fomento. Os municípios, por sua vez, são responsáveis pelos incisos II e III – sendo que o II é voltado às organizações, espaços e iniciativas culturais. “Em todas as etapas é preciso ter um cadastramento. No estado do Ceará, a maioria dos municípios aderiu ao Mapa Cultural do Estado do Ceará”, informa, ao dizer que uma das características principais da lei é o caráter de proteção social.

Entre os municípios que ele destaca acompanhar, Juazeiro se mantém entre os que seguem todos os trâmites. Um que ele diz existir problemas é Abaiara, que, conforme explicou, não dará sequência no processo de cadastramento. De acordo com Cícero André, secretário de Cultura em Abaiara, alguns procedimentos foram tomados pelo Município, como criação de

comitê gestor e elaboração de plano de ação. Entretanto, devido à burocracia, o processo foi interrompido. “A lei permite de uma forma, mas os artistas necessitam de outras. Se fosse para ser de acordo com a necessidade de cada um, tudo bem, mas não é e contrário a lei eu não vou”, afirmou.

Edilânia Rodrigues, do Studio Physical, de Crato, conta que, como integrante de artistas do Cariri, ela está decepcionada com os trâmites. “A informação que tínhamos é que a Lei Aldir Blanc vinha para dar assistência aos artistas, que não ia ter muito protocolo, que ia ser facilitado ao máximo para que todo mundo tivesse acesso e fosse beneficiado. Mas, no momento, o que estamos vendo é uma coisa completamente diferente”, relata. Ela, inclusive, teve dificuldades com o cadastramento e não foi inclusa na lista divulgada – o que a fez questionar o porquê e buscar uma resposta para suas dúvidas.

O Secretário de Cultura do Crato, Wilton Dedê, conta que todas as etapas da lei foram cumpridas. Ele conta que um termo de cooperação técnica foi assinado com a Secretaria de Cultura do Estado para usar a plataforma do Mapa Cultural. Paralelo a isso, foi criado um comitê tripartide de acompanhamento das atividades da Secretaria: sociedade civil, legislativo e a própria Secretaria. Pelo Inciso II, foram contemplados 40 espaços culturais. O Inciso III foi voltado aos Mestres da Cultura e, para esta semana, mais nove categorias devem ser contempladas. Ele conta que três equipes estão de plantão para auxiliar nas inscrições e no registro do mapa cultural. Para incluir maior número de integrantes, como de Pontos de Cultura, bases comunitárias e associações, Wilton conta que houve divulgação por meio de rádio e redes sociais.

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