Expansão do agronegócio acende alerta ambiental na Chapada do Araripe
Expansão agrícola é impulsionada por produtores do Centro-Oeste
Fotos : Fred Rahal Mauro
Robson Roque
30/12/25 0:00

O avanço do agronegócio sobre a Chapada do Araripe reacende o debate ambiental no Cariri e coloca em lados opostos representantes do setor produtivo e pesquisadores da área ambiental. Denúncias feitas pelo biólogo Léo Azevedo apontam para um cenário de desmatamento acelerado, pressão sobre comunidades locais e riscos à segurança hídrica, em uma das áreas ambientais mais sensíveis do Nordeste.

Segundo o pesquisador, quase 20 mil hectares já teriam sido desmatados para o plantio de soja, mandioca e algodão na Chapada. A preocupação aumenta diante da projeção divulgada pelo presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Ceará (Faec), Amílcar Silveira, que estima a expansão da atividade agrícola para até 100 mil hectares, nos próximos três anos, impulsionada por investimentos privados, sobretudo de produtores vindos do Centro-Oeste brasileiro.

Para o biólogo, a expansão em larga escala não é uma decisão meramente técnica. “Produzir em 100 mil hectares na Chapada do Araripe é uma decisão política, que coloca a função ecológica da região em segundo plano”, afirma. Ele lembra que a área abriga nascentes, aquíferos e uma biodiversidade única. 

Entre as principais ameaças citadas estão a redução da cobertura vegetal, o comprometimento dos recursos hídricos e o aumento dos incêndios florestais. “O avanço do desmatamento, especialmente para implantação de monoculturas em larga escala, já provoca impactos visíveis como a redução da vazão de nascentes, assoreamento de cursos d’água, compactação do solo e aumento da erosão”, completa Azevedo.

Em 2024, quase seis mil hectares teriam sido atingidos por desmatamento e queimadas, segundo levantamentos citados pelo pesquisador. Ele também relata denúncias de pressão sobre moradores e pequenos proprietários rurais em municípios como Santana do Cariri, para a venda de terras a grandes grupos econômicos. “Eu sou apicultor, e eles estão acabando com nossas abelhas usando agrotóxicos. Nos últimos anos, a população de abelhas diminuiu muito”, reclama Márcio Félix.

Do outro lado, a Faec sustenta que a região vive uma “revolução agrícola”. Amílcar Silveira afirma que as lavouras serão desenvolvidas em regime de sequeiro, usando apenas a água da chuva, e que o uso de tecnologia e o tratamento adequado do solo permitirão ganhos expressivos de produtividade, sem necessidade de irrigação intensiva. Para a entidade, o projeto representa geração de renda, emprego e desenvolvimento para o Cariri.

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