Cariri lidera ranking de feminicídios no Ceará
Violência contra mulheres avança no Cariri e coloca região no topo dos índices
Foto: Carlos Dyas - Projeto Oliveiras
Robson Roque
15/12/25 16:56

O Ceará, em especial a região do Cariri, vive um cenário alarmante de violência contra mulheres, marcado pelo crescimento dos casos de feminicídio. Os crimes têm como pano de fundo relações de controle, ameaças e históricos de agressões físicas e verbais. Entre as 25 Áreas Integradas de Segurança Pública (AIS) do Estado, a AIS 19, que reúne 25 dos 29 municípios do Cariri, lidera o ranking de feminicídios, com 42 casos registrados desde 2018, sendo seis apenas este ano. 

Os dados estaduais também preocupam. Em 2025, antes mesmo do encerramento do ano, o Ceará já igualou o total de feminicídios de todo o ano de 2023, com 42 mulheres mortas. Em 2024, foram 41 casos. Ao todo, desde 2018, 266 mulheres foram vítimas desse tipo de crime no Estado. Para o Movimento Frente de Mulheres do Cariri, os números refletem uma realidade diária de medo e resistência. “Diariamente as mulheres têm lutado e gritado por sobrevivência e segurança”, afirma o coletivo.

O último fim de semana foi marcado por crimes que evidenciam como a violência de gênero segue presente no cotidiano caririense. Em Missão Velha, a psicóloga Karine Gonçalves Luciano Barros, de 39 anos, foi assassinada a tiros. O ex-marido dela, Diego Almeida Castro, foi preso em flagrante e teve a prisão convertida em preventiva. 

Familiares apontam que a disputa pela guarda do filho de dois anos foi o principal motivador do crime. Mensagens encontradas no celular de Karine revelam ameaças explícitas, recusas em cumprir decisões judiciais e um histórico de violência doméstica. Dias antes do assassinato, o suspeito chegou a publicar ameaças nas redes sociais, reforçando o contexto de escalada da violência.

Em Juazeiro do Norte, uma travesti de 34 anos foi morta com um tiro nas costas, no bairro João Cabral. Na mesma semana, uma mulher de 53 anos foi encontrada morta dentro de casa, no mesmo bairro, com sinais de violência grave, incluindo indícios de violência sexual. Os casos seguem sob investigação da Polícia Civil.

Apesar da gravidade do cenário, ações de enfrentamento têm sido realizadas. Durante a campanha dos 21 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra a Mulher, a Delegacia de Defesa da Mulher de Juazeiro do Norte registrou 159 atendimentos, incluindo 46 medidas protetivas, 17 prisões em flagrante e 96 boletins de ocorrência. Os dados mostram a demanda constante por proteção e resposta do poder público.

Para a deputada estadual Zuleide Fernandes (PSOL), o combate à violência passa por mudanças estruturais. “Nós queremos viver e lutaremos para que isso seja uma verdade para todas nós. O Ceará tem altíssimos números de violência contra mulheres, e nosso trabalho tem sido incansável para mudar esses números. A educação será um caminho importantíssimo, e ter mulheres em espaços de decisão é fundamental para esse projeto de vida”, afirma.

Coordenadora do Observatório da Violência no Cariri, ligado à Urca, a professora Grayce Albuquerque destaca que, apesar de ter sido ampliada a rede de enfrentamento à violência contra mulheres, na região, “as raízes estruturais da desigualdade de gênero permanecem”. Ela indica, ainda, a existência de “um grande número de casos subnotificados”, uma vez que a violência doméstica persiste. “A nossa cultura, a forma como a sociedade se organiza, estipulando papeis específicos para homens e mulheres, e colocando mulheres num papel de inferioridade, reforça as desigualdades de gênero”, explica.

PUBLICIDADE
PUBLICIDADE PUBLICIDADE
RECOMENDADAS PARA VOCÊ
PUBLICIDADE
RECOMENDADAS PARA VOCÊ
PUBLICIDADE
PUBLICIDADE
PUBLICIDADE
PUBLICIDADE