A educação sexual é fundamental para a saúde pública, por instruir as pessoas sobre temas como Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs), gravidez na adolescência e abuso infanto-juvenil. Debates sobre essa temática, no Brasil, embora ainda sejam tabu, têm o intuito de conscientizar a população sobre questões relacionadas ao corpo e ao sexo, de maneira natural.

Principalmente em razão desse tabu, não é tão simples, no Brasil, encontrar um espaço aberto e seguro de troca de informações confiáveis sobre saúde e sexualidade. Essa dificuldade acaba acentuada no contexto de pessoas que enfrentam barreiras linguísticas, como é o caso da comunidade surda, cuja primeira língua é a Língua Brasileira de Sinais (Libras) e não o português.

A partir dessa perspetiva, o professor Rômulo de Lima Sousa, do curso de Letras-Libras da Universidade Federal do Cariri (UFCA), desenvolveu o projeto “Apontamentos para Educação Sexual, em Libras, para a comunidade surda do Cariri-CE”. Com a intenção de incluir os surdos da região em discussões sobre educação sexual, o projeto produziu informações importantes sobre o tema na língua de sinais e compartilhou o conteúdo com a comunidade surda do Cariri.

De acordo com o professor Rômulo, a ideia do projeto surgiu em 2023, após ele orientar o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) de uma discente que pesquisava sobre a comunidade LGBTQIAPN+ surda do Cariri: “A partir da pesquisa dela, a gente encontrou que não existiam campanhas, informações ou projetos que visassem a Educação Sexual, não só para a comunidade LGBTQIAPN+, mas para a comunidade surda como um todo”, afirmou.

O docente da UFCA destaca que, ao falar sobre Educação Sexual, o projeto também discute pautas sobre consentimento, saúde sexual, identidade de gênero, sexualidade, reconhecimento de sinais de abuso e métodos contraceptivos.  A iniciativa, vinculada à Pró-Reitoria de Extensão (Proex/UFCA), tem como público principal os surdos do Cariri – especialmente os das cidades que formam o triângulo Crajubar (Crato, Juazeiro do Norte e Barbalha) – e pessoas que frequentam associações da região voltadas para esse público. Ao todo, participam do projeto 15 discentes do curso de Letras-Libras da UFCA – entre surdos e ouvintes.

Ato de empoderamento

Para Rômulo, por vivermos em uma sociedade preconceituosa, o projeto impactou positivamente a formação acadêmica e pessoal dos participantes e pode ser visto como uma quebra de paradigmas para o Cariri.

“Eu acredito que a iniciativa tenha tido uma influência muito grande na possibilidade de trazer esse conhecimento para os surdos da região. [O projeto também] ajudou os discentes de Letras-Libras a entender essas diferenças para além da surdez e, para comunidade surda, eu acho que foi um ato de empoderamento”, pontuou Rômulo.

O projeto trouxe, tanto para discentes da UFCA quanto para o público externo, segundo o professor, informações básicas e acessíveis para ouvintes, mas que ainda são escassas na Libras.

Fases do projeto e apresentação das ações

Após aprovação junto à Proex/UFCA, a iniciativa contou com duas etapas de execução. Na primeira, foi realizada a formação dos estudantes extensionistas para atuarem como multiplicadores dos conhecimentos compartilhados.

Na segunda fase, foram ofertados, para a comunidade surda, palestras, oficinas e minicursos. Nesses encontros, o projeto fez uso de abordagens participativas, como dinâmicas de grupo, debates e recursos visuais em Libras.

A ação apresentou um minicurso durante o terceiro Setembro Surdo, evento realizado pelo curso de Letras-Libras na UFCA e, posteriormente, o projeto também foi apresentado no Centro Cultural do Cariri Sérvulo Esmeraldo, no Crato.

O professor explica que, embora o projeto já esteja em fase de conclusão do objetivo inicialmente proposto (consolidação e entrega de relatório final à Proex/UFCA), há possibilidade de uma segunda edição do projeto, a partir de uma nova perspectiva, para o ano que vem, possivelmente abordando temáticas não contempladas na primeira edição.

Com informações da Universidade Federal do Cariri (UFCA)