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Saúde mental: pedir ajuda salva vida
Desigualdade social impacta saúde mental
Foto: Tânia Rêgo/ Agência Brasil
Joaquim Júnior
10/09/24 8:30

Muito se fala em saúde mental e a importância de nos voltarmos para os cuidados necessários a ela. Nos últimos tempos, é cada vez mais comum encontrarmos pessoas falando que a saúde mental também é ter os direitos respeitados, comida na mesa, oportunidade de ensino e trabalho etc. Em mais um mês de setembro, quando é realizada a Campanha Setembro Amarelo, de combate ao suicídio, o tema – que ainda é considerado um tabu – volta a ser foco de discussões.

Pedro Alencar, psicólogo clínico e do SUS, conta que a campanha é realizada desde o ano de 2013, e foi uma iniciativa de organizações públicas e privadas na tentativa de diminuir os casos de suicídio ao falar mais sobre o tema. No entanto, ele lembra que não devemos aguardar o mês de setembro para trazê-lo à discussão. “Todavia, alerto para a forma responsável que se deve abordar o assunto, incluindo os locais em que podem oferecer ajuda, como o CVV (pelo número 188 e bate-papo na internet) e faculdades de psicologia, que oferecem atendimentos gratuitos ou a baixo custo”, pontua, ao dizer ser fundamental que as pessoas não façam piadas ou banalizem a temática, pois prejudica a pessoa que está sofrendo com alguma questão emocional e precisa de escuta, acolhimento e apoio para sair desse estado.

Como pontua o psicólogo, a nossa fala é valiosa e, se alguém nos comenta sobre algo importante para ela, é porque sentiu confiança e necessidade de comunicar. “Caso você não saiba como ajudar, oriente buscar ajuda profissional, visitar o posto de saúde mais próximo. Se cada pessoa conseguisse ver no outro um apoio, não viveríamos tempos com tanto sofrimento mental, onde o suicídio é visto como saída”, afirma.

Diante da desigualdade social existente, que impossibilita a muitas pessoas o acesso a bens e as torna mais vulnerabilizadas do que outras, intensificando problemas de saúde física e mental, Pedro lembra da importância de termos representantes que realmente olhem para a população: “Como as eleições estão próximas, penso que  votar em candidatas/os comprometidas/os com a garantia dos direitos das pessoas menos favorecidas e com a ampliação das políticas públicas que valorizem as populações mais excluídas pode ser um passo importante no alcance da saúde mental”. Desta forma, ele conclui que viver em uma sociedade mais justa, em que o debate sobre saúde mental seja pautado no respeito pela dignidade humana, é fundamental para que menos suicídios ocorram.

A psicanalista Macedônia Felix conta que falar sobre suicídio coloca em questão a dor que pode ser viver. “Sobrevivência cansa, preconceito mata. Falar sobre porque pessoas se matam força uma torção no debate sobre a vida que está posta para a maioria das pessoas como uma vida reduzida a apenas suportar mais um dia, ou contar menos um. Além de um compromisso coletivo com uma vida que de fato possa ser vivida, se questiona também como as pessoas que pensam em morrer estão se cuidando hoje. Quem não pode pagar uma análise, uma terapia, está indo aonde? É necessário que as pessoas tenham onde falar da sua dor em confiança durante todo ano, bem como serem apoiadas quando procurarem suporte, e não serem tratadas como fracas e doentes”, enfatiza.

A lógica que força o trabalho em três expedientes, a precarização e a exploração da trabalhadora e do trabalhador torna, nas palavras de Macedônia, a saúde mental uma verdadeira missão impossível. “Afinal, como ter um mínimo de saúde se a vida é reduzida à luta pela sobrevivência?! Ou seja, esse sistema que quer vender saúde mental é uma falácia, pois a própria estrutura é adoecedora”, aponta a psicanalista.

Na contramão dessa corrente, Macedônia destaca a existência de grupos e coletivos no Cariri, a exemplo do Grupo de Valorização Negra do Cariri (Grunec) e Frente de Mulheres do Cariri, que, através da vivência africana, ensinam sobre o bem-viver e o aquilombamento como estratégias de vida que furam essa lógica do trabalho de domingo a domingo. “Defendem que é preciso descanso, miolar, jogar conversa fora, rir com os seus, criar momentos com afeto, apoio e coletividade. Dessa forma, para nós no Cariri, os comuns desta terra, podemos inventar espaços e encontros para viver, e não apenas sobreviver. São, de fato, ações que produzem efeitos terapêuticos. Assim, a palavra vem ser a outra via para a dor que não seja o silêncio desta. Para a psicanálise, essa continua sendo a grande aposta iniciada por Freud: fazer falar o que se cala”, finaliza.

EQUIPAMENTOS NO CRAJUBAR

Voltados à população, os municípios possuem uma rede de atenção direcionada ao atendimento de saúde mental.

Em Crato, as demandas de saúde mental são atendidas nas Unidades Básicas de Saúde, por meio das equipes de Saúde da Família e de Equipes Multiprofissionais, no Centro de Atenção Psicossocial III, no Centro de Atenção Psicossocial para Álcool e outras Drogas e no Centro de Especialidades, que conta com Psiquiatra e Psicólogos, além da Policlínica, que também conta com esses profissionais. Foram 2.500 atendimentos psiquiátricos nas unidades do município e na policlínica registrados no sistema, e cerca de19.500 atendimentos psicológicos.

Em Juazeiro, há um Centro de Atenção Psicossocial em Álcool e Drogas (CAPS AD), com funcionamento 24 horas, voltado a jovens, adultos e idosos dependentes; CAPS Mental III, para maiores de 18 anos; e CAPS infantojuvenil – um complexo que abriga Centros de Atenção Psicossocial Infantojuvenil (CAPSi) e Centros de Assistência à pessoa com Transtorno do Espectro Autista (CAPTEA), com faixa etária de 2 anos à 17 anos 11 meses e 29 dias). No primeiro quadrimestre do ano, foram contabilizados 12.459 atendimentos na atenção primária e também no CAPS AD; 10.399 no CAPSi e no CAPTEA; e 16.937 no CAPS III.

No município de Barbalha há um CAPS III, que atende o público adulto, é aberto 24 horas, 7 dias por semana, incluindo feriados; o CAPS Infantojuvenil, que atende crianças e adolescentes que apresentam prioritariamente intenso sofrimento psíquico decorrente de transtornos mentais graves e persistentes, incluindo aqueles relacionados ao uso de substâncias psicoativas. Atende também pessoas com autismo; e CAPS AD, que acolhe diariamente pessoas e seus familiares com transtornos devido ao uso de substância psicoativas (álcool e outras drogas) que desejam ser acompanhadas para tratamento, sem a necessidade de agendamento – o equipamento está em processo de mudança de modalidade para CAPS AD III, onde irá também funcionar 24 horas para acolhimento noturno.

Em Barbalha, foi também criado o ambulatório de Psiquiatria no Posto Leão Sampaio para atender os casos moderados, sendo a única cidade da região do Cariri a ter esse tipo de ambulatório. Mensalmente, cerca de 1.288 atendimentos médicos psiquiatras são registrados no CAPS III; 880 atendimentos médico psiquiatra no CAPS Infantojuvenil; e 920 atendimentos médico psiquiatra no CAPS AD.

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