De madeira, de ferro, de alumínio; brancas, verdes, azuis, amarelas, pretas; com ou sem janelas... As características que uma porta pode possuir são inúmeras, e cada uma delas nos convida a um universo diferente. Ao longo de sua caminhada, Negro Sousa, artista e pesquisador visual, procurava meios de estabelecer uma relação afetiva com a cidade, através de algum elemento que a integrasse. Foi aí que surgiu a ligação dele com as portas, o que abriu passagem para o início de “Pode entrar”, série fotográfica que percorreu cinco estados brasileiros e dez cidades, incluindo Crato e Juazeiro do Norte, e que acaba de ganhar uma exposição digital com mil imagens.

De acordo com Negro Sousa, a relação dele com as portas surgiu ainda em 2018, quando percebeu uma porta com detalhes geométricos talhados na madeira. “Aquilo me prendeu por minutos até eu decidir colocar esses objetos à visão em toda caminhada, viagem ou vivência em outros estados”, relatou, ao citar que foi aí o começo da aventura de “Pode Entrar”, em que ele sempre se sentia convidado pela cidade a entendê-la, mesmo que somente pela fotografia, trazendo um produto possível para abordar esse tema.

De 12 anos de exercício fotográfico, Negro Sousa conta que sete são voltados à atuação com artes visuais. “Acredito que as portas tenham sido uma resposta possível e acessível ao meu debate sobre a cidade e quem a compõe”, relata. No material criado, ele vê a porta como um produto afirmativo do ser humano na sua potência territorial e indica uma realidade a ser considerada. “O ser humano desde os primórdios usa de seu instinto para demarcar e tomar posse de seu território. As portas não escapam desse conceito - você nota isso ao longo do material”, explica.

Segundo o artista, a dinâmica da pesquisa era compartilhada com outras pautas, em que cada cidade tinha uma cobertura a ser feita e a captação das portas acompanhavam essas coberturas. Na documentação dos registros, em que Negro Sousa costumava criar um trajeto que ia do centro para a margem da cidade, normalmente em horários matutinos que acompanhavam o nascer do sol, por fatores técnicos, nem sempre havia o contato com as pessoas – nas ocasiões em que isso ocorria, boas conversas em bem-vindas. “Foi um processo muito pacifico e as pessoas aqui no Ceará foram as que mais tiveram interações com as fotografias”, lembra o fotógrafo, ao mostrar o desejo de que, agora com o projeto concretizado, elas possam rever e se apaixonar pela obra completa.

“Pode entrar” conta com mil fotografias, algo que, segundo Negro Sousa, é definitivamente um marco superlativo na criação de exposições. “É a maior exposição em volume de fotografias sobre o assunto, que se tem notícia, até então”, destaca, sem deixar de adicionar que a conclusão do material levou 18 meses. Para conferir o resultado, a exposição está disponível virtualmente no Instagram, de forma permanente, através da conta @negrosoousa.

“Essa é a primeira parte do projeto (que já conta com extensões), e pensamos no virtual como resposta a um espaço mais facilitado para compartilhamos dessas criações, mas claro que há um desejo imenso em tornar o material completo concreto. Tenho um recorte físico dele em minha residência já e fico deslumbrado ao imaginar o impacto visual de um lote dessa magnitude de forma física. O sonho continua e tudo é possível!”, enfatiza o artista visual, que deixa o convite para que as pessoas conheçam sobre o trabalho dele: “Fica aqui meu convite a você, leitor, que visite a exposição no perfil @negrosoousa no Instagram, e se permita aventurar visualmente nesse contato com a(s) cidade(s) e tecer suas conclusões sobre esse contato que também fala muito para e de nós, sobre nosso meio. Fica aqui meu agradecimento ao espaço e a atenção de todos!”.