Violência preocupa comunidade escolar
Psicóloga orienta observar comportamento das crianças e dos adolescentes
Foto: Agência Brasil
Joaquim Júnior
11/10/22 8:30

Casos recentes de violência dentro das escolas têm preocupado quanto à segurança nos estabelecimentos de ensino. Na última semana, um adolescente, na cidade de Sobral, disparou contra outros três estudantes em uma escola pública. O caso ganhou repercussão e levantou questões que incluem bullying, acompanhamento psicológico à comunidade escolar e aproximação da família.

Alexsandra Machado, mãe de dois estudantes, opina sobre o assunto: “Como mãe, sinto apreensão e insegurança diante de fatos tão imprevisíveis e assustadores. Mas penso ser possível intensificar a parceria família, escola e Estado, com projetos voltados para essa temática, sendo trabalhada, também, na própria sala de aula, como tópicos essenciais para a paz”

Como aponta Emylle Martins, psicóloga clínica infantojuvenil, para entender o significado do termo bullying é necessário avaliar primeiro a tradução desse termo: bullying significa valentão/valentona e, trazendo para o português, há o significado de ameaçar, intimidar, importunar a alguém. “De forma mais detalhada, o bullying é um conjunto de violências contínuas e repetitivas com agressões verbais, físicas e/ ou psicológicas que traumatizam alguém”, explica, ao dizer que elas podem ser praticadas por uma pessoa ou até mesmo por grupos. “As vítimas são ridicularizadas e tratadas de forma vexatória por apelidos, expondo suas características físicas, forma de vida e sexualidade”, completa.

Apesar da prática trazer sofrimento à vítima, a psicóloga afirma que deve-se buscar entender a conduta dos agressores, pois, por vezes, são pessoas que já sofreram ou que sofrem agressões no ambiente familiar, ou na própria escola, e tentam transferir esse sofrimento a outras pessoas. “Daí entendemos que esse valentão acima descrito é, na verdade, uma pessoa com uma carga de fragilidade emocional que reproduz no outro o sofrimento vivenciado”, explica.

“As consequências do bullying para as vítimas são devastadoras e podem desencadear diversos sofrimentos emocionais, como isolamento social, agressividade, baixo rendimento escolar e diversos prejuízos que poderão permear a vítima até sua vida adulta”. Assim, Emylle aconselha que a criança ou adolescente que esteja em um ambiente escolar em que se sinta oprimida por algum colega, ou até mesmo por um grupo, busque ajuda com alguém de sua confiança para que tal sofrimento seja sanado e não desencadeie depressão, ansiedade, transtorno do pânico ou outros transtornos psíquicos.

Sobre os casos recentes de violência dentro das escolas, a psicóloga afirma ser notório perceber a divulgação sobre o aumento de casos, envolvendo geralmente agressores adolescentes que sofreram bullying. “É comum que esses agressores sinalizem o seu desejo de realizar tais fatos, tempos antes do ocorrido. Com isso, é necessário que as ameaças verbalizadas sejam validadas e informadas aos pais, professores e, até mesmo, à direção da escola, a fim da investigação da veracidade do fato, buscando impedir que tal violência seja efetivada”, afirma.

Como cita Emylle, é preciso estar atento ao comportamento das crianças e adolescentes, sobretudo quando começam a apresentar um comportamento de isolamento, dificuldade de aprendizagem, baixa autoestima e falta de vontade de ir para escola. “O medo que permeia os pais e filhos ao retornarem à escola após fatos marcados pelo bullying é natural, pois, nesta ocasião, ele funciona como um instinto de sobrevivência. Porém, não podemos permitir que tal medo impeça as crianças a retornarem para sua rotina normal na escola a fim de não trazer prejuízos na vida deles”, conclui.

Uma das formas de auxiliar os filhos neste retorno, conforme orienta a psicóloga, é respeitando seus medos, reconhecendo que o medo é real e precisa ser validado e acolhido pelo adulto. “Ao invés de obrigar a criança a ir para a escola quando ela não se sente preparada, o ideal é conversar com ela sobre a importância da continuidade dos estudos, ouvi-las falar de seus medos e, se necessário, buscar o serviço de psicologia a fim de que ela busque compreender esse sofrimento e aprender a lidar com eles”, finaliza.

Em notas, tanto a Secretaria da Educação do Ceará (Seduc) como a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS-CE) apresentaram posicionamento, o dia 06 de outubro, sobre o caso em Sobral e a questão das seguranças nas escolas.

SEDUC

A Secretaria da Educação do Ceará (Seduc) lamenta profundamente o ocorrido na EEMTI Profa. Carmosina Ferreira Gomes, em Sobral. E informa que, por meio da Coordenadoria Regional de Desenvolvimento da Educação (Crede) 6, adotou imediatamente as providências necessárias para socorro das vítimas e acionamento do trabalho policial. Os três alunos foram levados para atendimento na Santa Casa de Misericórdia de Sobral, sendo que dois já receberam alta. Os familiares estão sendo acolhidos pela equipe da Coordenadoria Regional, que inclui profissionais das áreas de Psicologia e Assistência Social. A comunidade escolar também está contando com este suporte.

A Seduc tem reforçado, constantemente, ações visando à segurança do ambiente escolar, tanto em termos físicos quanto psicológicos. Além disso, a Secretaria está contando com as parcerias da Prefeitura Municipal de Sobral e da Secretaria Estadual de Proteção Social, Justiça, Cidadania, Mulheres e Direitos Humanos (SPS).

A secretária da Educação, Eliana Estrela, esteve nesta quarta (5), em Sobral, para acompanhar a situação e prestar o apoio necessário.

Ainda não há data para retorno às aulas. O assunto será avaliado com a comunidade escolar. A Secretaria da Educação (Seduc) considera mais importante, neste momento, acolher as famílias, alunos e profissionais da unidade de ensino.

SSPDS

A Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS-CE) informa que realiza ações de prevenção, nas escolas, por meio do Comando da Polícia Militar para Prevenção e Apoio às Comunidades (Copac) e da Divisão de Proteção ao Estudante (Dipre) da Polícia Civil do Estado do Ceará (PC-CE).

O Copac, parte da estrutura da Polícia Militar do Ceará (PMCE), mantém o Grupo de Segurança Escolar (GSE), que atua com policiais militares especializados na identificação de vulnerabilidades, fortalecendo o relacionamento de proximidade entre a corporação, a comunidade escolar, os alunos e os responsáveis. O trabalho é realizado com palestras relacionadas à realidade da instituição, voltadas para a manutenção da escola como um ambiente de paz e harmonia.

Já a Dipre da PC-CE é formada por policiais civis especializados em identificar situações de conflito nas escolas, também por meio de visitas técnicas e escutas, que possibilitam o reconhecimento do grau de risco da situação. Com esse trabalho inicial, são planejadas palestras de prevenção para a escola e demais instituições da região, para evitar que a situação de risco tenha alguma repercussão nos demais colégios. Nos encontros, os estudantes são estimulados a refletir sobre o bullying e suas consequências. A repercussão das palestras é monitorada pela Dipre, que também atua com o Departamento de Polícia Judiciária de Proteção aos Grupos Vulneráveis (DPJGV) da PC-CE para identificar e responsabilizar os envolvidos nas situações.

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