A arte em barro da família Cândido
Socorro Cândido mantém vivos os ensinamentos transmitidos pela mãe. Foto: Daiane Monteiro
Joaquim Júnior
19/07/22 11:10

A arte na família Cândido passa por gerações. De Mestra Maria, a arte com o barro continua com seus descendentes. Corrinha Cândido, uma das filhas dela, permanece fazendo a arte. Ela começou ainda criança, brincando com as panelinhas que a mãe fazia. Desde os oito anos, as pecinhas de brinquedo ganharam mais formas e cores: hoje, Corrinha produz reisados, presépios, Iemanjás, casais de namorados, procissões e peças em geral da cultura popular.

“Eu acho muito importante passar a arte para os mais jovens, para dar continuidade ao legado de minha mãe, que é muito importante na minha vida. Ela e minha irmã, Maria Cândido, são meu espelho na vida”, afirma a artesã. “Aos que quiserem aprender, estou aqui para ajudar, para ensinar o que quiserem aprender comigo”, completa.

Fotos: Daiane Monteiro

Como lembra Corrinha, a mãe dela, Mestra Maria, começou a fazer o artesanato em barro na década de 70. Eram brinquedinhos para os filhos, como panelinhas e cavalinhos. Depois, ela começou a fazer peças em maior quantidade e a vender em alguns locais de Juazeiro – foi quando os filhos começaram a ajudá-la e iniciaram no mundo do artesanato.

Após uma encomenda, realizada pelo fazendeiro de onde a família morava, novas obras foram criadas: casamentos, tocadores, vaquejadas etc. as peças, que até então eram de base, passaram por mudanças quando, na década de 80, foram criadas placas para serem penduradas na parede. As dificuldades foram vencidas a passos lentos, com o reconhecimento de admiradores sendo o principal apoiador do trabalho.

A primeira exposição com as peças ocorreu em meados de 1985, na Galeria Pé de Boi, no Rio de Janeiro. A Mestra Maria esteve presente. Após isso, outras ocorreram: Violeta Arraes levou as peças para exposição na França; Dodora Guimarães também colaborou com exposições do trabalho; as peças adentraram o espaço da Associação Mestre Noza.

O reconhecimento também ocorreu por meio de títulos. Entre eles, Maria Cândido foi reconhecida Mestra da Cultura no ano de 2004 e agraciada com o Título de Notório Saber em Cultura Popular, concedido pela Universidade Estadual do Ceará. “A gente está dando continuidade ao legado dela. Costumo dizer que a herança que ela deixou para a gente foi a arte do barro”, enfatiza Corrinha.

Como são feitas as peças

A produção da peças é feita por etapas. O barro é encaminhado para a fábrica, onde é moído até que se torne massa fina. Nas mãos de Corrinha e dos familiares, a massa é molhada e deixada para descansar. Três dias depois, a placa é batida, os bonecos são feitos e colocados na placa. Após secar, é feito o furo e a obra é queimada. Depois, é feita a pintura para que seja embalada e entregue aos clientes.

Atualmente, a família Cândido conta com clientes em várias cidades do Brasil. Além do Cariri, as peças são destinadas a galerias e clientes em Brasília, Fortaleza, Recife, Rio de Janeiro, São Paulo, entre outros. “Eu acho muito importante a gente dar continuidade na arte que mãe ensinou para a gente, que é também um dom de Deus. Porque, se a gente não tiver o dom, a gente não consegue fazer nada. A gente tem que dar continuidade e ensinar para os que também queiram aprender, para, quando a gente não estiver mais nesse mundo, ter alguém para continuar nossa obra”, finaliza Corrinha, ao dizer que espera que as gerações futuras continuem e valorizem a arte.

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