“Mamãe, os meus sapatinhos! Como estão velhinhos de tanto dançar” – foi ao som desta música, chamada de “Charleston”, que Diva D’Brito, aos sete anos de idade, começou a sonhar em ser atriz. À época, ainda sem entender a dimensão do momento, ela se encantava com os atores vestidos de palhaços, durante peça da Cia. Anjos da Alegria, dirigida por Flávio Rocha. Hoje, graduada em Teatro pela Universidade Regional do Cariri (Urca), Diva é uma multiartista travesti, que leva aos palcos do Cariri o seu talento. Atualmente, ela apresenta o espetáculo “Bebam Com Uma Diva”, em que canta clássicos do brega.

“A graduação foi algo transformador. Eu ingressei me vestindo e portando um tipo de roupa e saí usando outras. Me libertei de muitos preconceitos internos e reforcei alguns que já tinha”, relata. “Mesmo com todas as dificuldades, me orgulho de ser uma artista carirense. Às vezes, até brinco em dizer que carrego o título de A Vedete do Cariri”, menciona. O título faz jus ao talento, afinal, vedete é uma mulher que canta e dança em teatros-revistas e musicais ou, ainda, a atriz principal de espetáculo teatral ou cinematográfico.

“Diva D’Brito é a realização de poder ser aquilo que se quer de um garoto sonhador, nascido na cidade de Crato, que até hoje reside em um sítio de nome peculiar: Sítio Buenos Aires. Filho de uma professora, Jaceilde de Brito Silvestre, e de um militar, Sr. Francisco Silvestre da Silva, ao qual tem gratidão eterna pelo amor que recebeu de seus pais, Diva D´Brito é simplesmente uma artista, uma ferramenta da sensibilidade”, apresenta. Como lembra Diva, foi ainda no segundo semestre de 2021 que ela tomou a iniciativa em se apresentar nos bares caririenses. “Confesso que amo o que faço. Não faria outra coisa”, enfatiza.

Entre os anos de 2013 e 2014, quando ela ainda não era Diva, a artista fez parte de uma banda chamada Sykrasis, em que interpretava músicas de Bossa Nova, Samba e Jazz. Lá, percebeu que o público não prestava tanta atenção e que ele curtia mesmo uma música de Waldick Soriano. “Pensei: ‘é por aqui que eu vou’ e tem dado certo até o momento”, comenta a cantora, que criou o show “Bebam Com Uma Diva” em 2021. No projeto, ela busca trazer a ancestralidade de Rógeria, Jani de Castro, Divina Valéria (que é uma grande fonte de referência no momento), atrizes e cantoras travestis que fizeram história no Brasil, exercendo a profissão de artista.

“Bebam Com Uma Diva” estreou no extinto bar Maria Fumaça, próximo ao Largo da RFFSA, em Crato. De lá para cá, Diva levou a voz a espaços como Casa Ucá, Toca do Lampião, Caverna, Gygabyte, Terraço do Zé, Lanchonete Horús, Waldir Churrascaria, Fulô Café e Cultura e no Cangaço. Nesta quarta-feira (13), se apresentará no Centro Cultural Banco do Nordeste. Apesar de sempre contar com a participação do público, a cantora já vivenciou episódios negativos. Como quando ela foi interrompida pelo proprietário de um local em que se apresentava. “Eu desejo muito levar esse show para outros espaços e outras cidades. No geral, o público ama e adora repetir a dose de ‘Bebam Com Uma Diva’”, enfatiza. Sobre planos de gravação, ela diz ter muita vontade, mas que precisa de compositores e deixa o convite para os interessados. Neste momentos, ela estuda a possibilidade em gravar um videoclipe.

“Eu quero deixar o meu apelo aqui a todos os setores de RH, os proprietários de empresas, que nós temos pessoas trans e travestis no Cariri com grandes capacidades profissionais. Só não temos as oportunidades em mostrar isso. Muitas acabam indo para a profissão mais antiga do mundo por falta da abertura de espaços. Quanto ao ser artista, acho que devemos passar por um despertar coletivo de aprendermos a diferenciar artistas de celebridades. Ser artista é uma coisa, ser celebridade é outra. Há uma diferença muito grande nisso. Eu busco o caminho da arte. E deixo aqui o meu convite a todos aqueles que tiverem um interesse em conhecer mais o meu trabalho enquanto atriz e cantora”, finaliza.