Movimento junino enfrenta impactos da pandemia
Em 2021, esses trabalhadores relatam, pelo segundo ano consecutivo, os impactos da pandemia da covid-19 em suas atividades.
Foto: Arquivo pessoal.
Luan Moura
30/03/21 17:00

As quadrilhas juninas são, hoje, o principal símbolo das festas de São João no Cariri. Com uma produção que começa bem antes do mês de junho, os grupos envolvem uma cadeia produtiva formada por músicos, coreógrafos, costureiras, aderecistas e outros profissionais que trabalham desde o processo criativo até o resultado final dos festivais competitivos. Em 2021, esses trabalhadores relatam, pelo segundo ano consecutivo, os impactos da pandemia da covid-19 em suas atividades. Ao avaliar este cenário, o pesquisador e produtor cultural Lucieudo Chaves aponta que é “preciso olhar para o São João além dos festivais - referindo- -se ao resultado final. É uma cadeia produtiva que movimenta muita coisa em nossos grupos e pode gerar renda aos brincantes e fazedores dessa arte”, aponta

É o caso do juazeirense Uedson Souza, de 25 anos, que além de brincante, atua no movimento junino fazendo penteados e coreografia, chegando a faturar em torno de R$ 3 mil como coreógrafo nas escolas particulares. “No mês de junho e julho, eu fazia em média 150 penteados. Não fazia mais porque eu dançava e acabava viajando muito. Ganhava cerca de R$ 7 mil só fazendo penteado”, relembra. Atualmente, Uedson trabalha como funcionário de uma loja de acessórios e celulares.

A cantora Dayze Mandelly, de Nova Olinda, vive da música. Ela faz shows em eventos e barzinhos, mas diz que é na temporada junina onde ela consegue lucrar mais com os festivais onde participa. “Em dois meses, eu ganhava cerca de R$ 4 mil garantidos, cantando com as quadrilhas. Então, está sendo muito difícil para mim essa situação atual”, disse a cantora que já cantou em grupos de Juazeiro do Norte, Altaneira e Nova Olinda. No contexto da pandemia, ela está sobrevivendo com o Bolsa Família e editais da Lei de Emergência para a Cultura. 

Para a costureira Ariana de Souza, que confecciona figurinos há três anos, é uma situação preocupante. Em anos anteriores, neste mesmo período, elas já estavam com as encomendas das quadrilhas de bairros, de escola e de competição. “Um dos momentos que mais temos trabalho é na época das quadrilhas. Esse ano, estamos sofrendo para manter as contas em dia. Eu ganhava em média R$ 2 mil durante toda a temporada. Hoje, chegar a 500 é motivo de muito agradecimento”, explica Ariane. Ela integra um grupo de costureiras que trabalha em conjunto e divide o valor ao final do processo. Nos últimos meses, as produções estão baixas, “estamos tentando manter com consertos, reformas de roupas e as máscaras de tecidos, que vêm ajudando com os rendimentos”, pontua.

Para o coreógrafo e noivo junino, Jackson Lourenzzon, de Campos Sales, que participa dos festejos há quase 17 anos, falar sobre São João é mexer no interior porque trata-se de histórias e vitórias. Ele conta que em 2020, quando a pandemia iniciou, “já tínhamos croqui de figurino, cenário, faltava só algumas finalizações”, explica. Hoje, o material encontra-se guardado, esperando para ser executado assim que os festivais forem retomados. “A gente precisa reacender a chama para, mais uma vez, ouvir a sanfona, a zabumba tocar e o público se arrepiar”, conclui

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